Olhos de Pôr do Sol

Ela é linda. Ouço isso todos os dias, de várias pessoas. Ela é linda. Sempre falo isso para ela. Ela é linda! Nunca precisei de ninguém me falar isso para saber que ela é linda. Bastasse eu a olhar uma única vez, por um milésimo de segundo, e eu saberia: ela é linda. Ela é linda e não faz esforço para isso. Se ela sorrir, pronto: eu já sei: ela é linda.

Deitados na rede, ouvindo Cartão Postal, de uma banda sulista, que até pouco tempo atrás eu achava ser o único a conhecer, ela era linda. No balanço da rede, sentimos a música e ela era linda.

O vento frio do final da tarde do recém chegado Outono fazia os cachos do cabelo dela dançarem ao ritmo do som. Ela, de olhos fechados, com os cabelos a bailar e balançando na rede, se eu, antes tinha duvidas, agora nada era mais certo do que a beleza dessa menina.

Eu sorria e apenas pensava no quão linda ela era e no quão feliz eu era. A música acabou, eu a olhava e ela estava linda. Ela abriu os olhos, devagar, e ela era linda. Eu apenas observava seus movimentos com um sorriso na boca e nos olhos, ela me perguntou o que foi, eu sorri mais e disse que ela era linda. Ela sorriu e ela era linda.

Queria esse momento marcado sempre em minha alma, como uma tatuagem no corpo. Beijei-a, com leveza, findando esse momento. A beleza dela confundida com a beleza do final do brilho do sol por trás das montanhas e eu a beijava. Em minhas retinas, mesmo fechadas, eu a via e ela era linda.

Sempre me falam que ela é linda e eu sempre sorrio concordando. Se um dia me perguntassem o que é o amor, eu responderia que o amor é lindo e que ele tem o mais lindo par de olhos castanhos. Olhos esses que não são de cigana oblíqua e dissimulada, mas são olhos de ouro e de pôr do sol.