''Somos Feito Estrelas'' (Parte 2) [Assexualidade]

Elenco:

Rebecca Savegnani / Fabrício Almeida Fragão

     Para quem nunca havia saído do Rio de Janeiro, Fabrício até que se sentiu acolhido por Curitiba. Era um clima tão gostoso e especialmente no calor deles que parece mais o frio da cidade maravilhosa. Ele fora recebido por sua amiga Ariana que ele tanto citou nas últimas semanas mesmo ela tendo se mudado há alguns meses. A garota o levou para sua casa e então puderam colocar os assuntos em dia e falar mais de Rebecca, essa que ele conheceria muito em breve assim que ela chegar da faculdade.

Fabrício: ''se você demorar uma hora a mais, eu invado essa cidade e te trago pela orelha''.

Ariana: Jura? Haha a tia é bem locona.

Fabrício: É sim, e logo ela disse que me amava e esperava que a viagem fosse tranquila.

Ariana: Ai eu amo o Rio mas sei lá, aqui é tão lindo e tão bom, sabe? Queria poder continuar aqui mas você sabe...meu pai tem que ir onde o chefe dele manda.

Fabrício: Imagino que seja difícil mas aqui é lindo mesmo, parece uma cidade de filme romântico sabe?

/

     A noite tinha chegado e então Rebecca entra pela varanda e bate a porta da casa de Ari. A mãe dela abre a porta e diz que os amigos estavam no quintal da cozinha, então ela vai ao encontro deles:

Rebecca: Olha quem está aqui, o frangão

Fabrício: - que se levanta e vai cumprimentá-la - ah olá, bec senhorita spears - ainda envergonhado pelo apelido.

Ariana: Você sabe que ele vai te crucificar por ter dito o apelido, eu avisei haha

Rebecca: Opa, desculpa, - saindo do abraço - mas passei o dia pensando numa primeira coisa para falar e não me digam que essa não ficou boa.

Ambos riram e passaram alguns minutos conversando antes de irem jantar. Era quinta-feira e as meninas passaram os dois dias seguintes mostrando a cidade para ele. Fabrício evitava perguntar o queria tanto e não notava o interesse em Beca de dizer algo do assunto. Por ele, assim estava bem mas ele não fora para Curitiba atoa mesmo que tenha sido ótimo conhecer a cidade, conhecê-la e visitar sua amiga de infância.

Como ele teria que voltar na segunda de manhã, então só havia o domingo para arrumar um tempo de conversar com Rebecca sobre a tal assexualidade que ela tinha lhe dito pelo computador. Apesar de sua amiga ter conhecido sobre o fato dele nunca ter se interessado muito por sexo e disso ter sido um problema com algumas garotas, ele não sentia-se assim tão confortável para falar sobre.

O almoço do dia seria na casa dela, Ariana e Fab iriam para sua casa que era duas casas a esquerda da de Ariana (ou direita dependendo da sua referência). Após o almoço, os pais de Rebecca foram para o restaurante onde trabalhavam e Ari resolveu deixá-los a sós, dizendo que iria dar banho no cachorro.

Fabrício: Por que eu acho que ela não foi dar banho no cachorro de verdade?

Rebecca: Acha que ela mentiu pra você lavar a louça e eu arrumar as coisas no armário?

Fabrício: Acho que não, que ela queria deixar a gente sozinho... - e se virou para ela

Rebecca: Você quer conversar né? Sobre assexualidade.

Fabrício: Sim. Digo, eu vim meio que pra entender mas tenho que partir amanhã. Eu procurei bastante na internet mas algo me diz que conversar com alguém próximo que sente o mesmo, seria bem melhor.

Rebecca: Tudo bem, termina ai e podemos conversar tranquilos na sala.

/

Rebecca: Eu menstruei a primeira vez com uns 13 anos, algumas pessoas me diziam que eu estava pronta mesmo que ainda sendo cedo para...você sabe. ''Meninos crescem mais tarde mas transam primeiro, meninas crescem mais rápido e transam depois'', uma coisa dessas.

Fabrício: Meu deus, agora eu penso em tantos casos de crianças mesmo que já transam e até tem filho.

Rebecca: Pois é, já naquela época era assustador. Mas enfim, eu nunca tive muito interesse sobre sexo. Eu tive várias paixonites, depois mais sérias a ponto de ficar magoada e de assumir namoros pequenos -

Fabrício: Pelos dois? Digo, homem e mulher?

Rebecca: Sim, meninos eu sempre gostei mas meninas vieram depois, depois dos 15 anos, nunca foi uma coisa que ''nossa, isso me atrapalha'', meus pais até que fingem não saber e torna mais fácil de viver.

Fabrício: Não acha que eles vão encrencar quando você resolver, sei lá, trazer uma namorada?

Rebecca: Acho que sim, mas é esperar que venha de forma branda.

...

Rebecca: Só que conforme o tempo passava, o fato de ter desejo sexual tipo 10% de 100% era um problema para os garotos e para umas garotas, sabe?

Fabrício: Algumas? Não entendi, nem todas queriam transar?

Rebecca: Não, o lance é que nem todos são realmente, digo, alguns casais homos são apenas sustentados pela cumplicidade, carinho, conversa, suporte...não são homossexuais e nem bissexuais de fato, eles estão juntos a outro porquê recebem carinho -

Fabrício: Isso foi meio confuso...

Rebecca: Eu tinha uma amiga chamada Susana, tenho mas faz tempos que perdemos contato, ela sempre reclamava dos meninos serem grossos e quererem sexo apenas, comigo ela encontrou um bom papo, carinho, compreensão; nós duas ficávamos bastante juntas e tinha até beijos, é isso sabe? Ela não é bi, nós duas só nos encaixamos naquele momento da vida.

Fabrício: Entendi, achei legal até, acho que algumas ''aventuras'', que curiosidade não são sexualidade, são só caminhos para saber quem você realmente é né?

Rebecca: Simm! Tem toda razão...prosseguindo, depois de levar alguns tocos, eu tomei coragem e fui conversar com um psicólogo amigo da minha mãe, após algumas sessões ele disse e contou sobre a assexualidade, que eu me encaixava sendo birromântica.

Fabrício: E conseguiu lidar com isso?

Rebecca: Bastante, após isso tive mais segurança de mim, procurei caras que entendiam isso e apesar de saber que seria difícil ficar sem sexo, de que forçar seria o pior para todos...mas e você? O que você conta?

Fabrício: Bem, desde meus 11 anos meus amigos assistiam pornô no celular, todos nos gostávamos é claro mas sei lá, eu via que não conseguia sentir atração nem pelas atrizes e nem pelos caras...desde essa época eu me masturbava meio que para trazer algum alívio se eu tava incomodado ou estressado, não sentia tesão quando abria sites pornôs, eu tentava sentir mas realmente não conseguia...depois dos 15 e as garotas começaram a falar sobre sexo, sobre fazer e que elas estavam prontas, eu sempre tinha que dizer que não estava pronto ou contar mentiras e dar cano nelas.

Rebecca: Dar cano sim mas você sabe o que nunca...desculpa, fui grosseira.

Fabrício: Haha idiota, mas sim, eu conheci tantas meninas lindas que eu desejava e ainda desejo me relacionar com elas, mas só isso, ter toda a coisa romântica sem que a coisa sexual seja uma coisa que me assombre tanto. Eu não sei o que fazer, beca.

Rebecca: Diria que você está no caminho certo!

Fabrício: Como no caminho certo se onde eu tô, não sei o que faço?

Rebecca: Eu vejo que se descobrir é a chave fundamental! Se todos entendessem sua sexualidade e fossem bem resolvidos sexualmente, não seriam tão grosseiros, tão egoístas a ponto de serem preconceituosos, não teriam tanto prazer em vigiar as vidas alheias...cara, você sabe quem é e sabe o tipo de relação que pode e quer ter, você tem o mundo pela frente.

Fabrício: E todas as garotas atrás.

Rebecca: Nossa haha agora o idiota foi você - e eles riram - 1% dos americanos são assexuais e sem dizer que pessoas não assexuais, infelizmente uma pequena parte dela, conseguem manter namoros e até casamentos com pessoas feito nós sabe? É tudo tão difícil seja pra gente quanto para pessoas que tem atração sexual.

Fabrício: Tudo é tão lindo, parece que eu e meus problemas não fazem parte disso tudo.

Rebecca: Olha, frangão, somos feito estrelas lembra?

Juntos: Sempre juntos no céu mas não necessariamente próximos

Fabrício: Sim, eu li e repeti dezenas de vezes na minha mente.

Rebecca: Por que você não conversa com as meninas que gosta sobre isso?

Fabrício: E ser conhecido com o menino que tem mais prazer em comer pudim do que transar?

Rebecca: Você vai ficar conhecido assim de qualquer jeito...é melhor tomar partido antes deles...

Fabrício: Acha que daria certo?

Rebecca: Meninas amam sexo mas ama carinho e respeito, amam um cara sincero e que lute pelos sentimentos dela...dê uma chance de cada uma dizer o que sente e como querem passar isso.

Fabrício: Você é maravilhosa sabia?

Rebecca: Hahaha vai demorar e ser difícil mas se fosse fácil não teria graça - ambos riram.

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     Fabrício nem poderia contar o peso que tirou do coração e da cabeça após a conversa com Rebecca. O domingo talvez tenha sido o melhor dia desde que ele começou a pensar sobre o assunto. O dia seguiu na mais perfeita ordem e houve até um descanso merecido após toda essa confusão de atração. A despedida foi dura pois é claro, ele amou e tudo, e desejava ficar. Chegou bem e contou o que Curitiba tinha e num impulso, resolveu contar para sua mãe sobre a seu assexualidade:

Lurdes: E você escondeu isso todo esse tempo?

Fabrício: Sim, mãe.

Lurdes: E você não explodiu? Que coisa...

Fabrício: Haha quase, mas não explodi.

Lurdes: Olha, garoto, ninguém te ama mais nesse mundo que eu, talvez sei pai, ele é maior e deve sobrar mais amar dentro dele - e Fab riu - mas eu quero que você seja feliz, muito. Você não vai machucar alguém por isso mas se alguém te machucar, eu tenho uns pneus lá fora pra jogar em cima de quem for tá ouvindo?

Fabrício: Acha que vai ser fácil para mim passar por isso?

Lurdes: Você já está passando, meu bem, foi muito forte esse tempo todo por sentir isso em segredo, e muito corajoso do resolver dizer isso. Mas seu sorriso é o mais importante para mim.

Fabrício: E o que a senhora acha?

Lurdes: As coisas estão mudando sabe? Não acho que estejam piorando como o pessoal da igreja diz, mas quando você ou seu primo podem falar abertamente sobre a sexualidade de vocês, quando podem ter os namoros em paz e viver em paz sem que joguem vocês em fogueira, eu vejo que as coisas possam estar melhorando.

Fabrício: Você vai ficar feliz de não trazer alguém para transar aqui né?

Lurdes: A casa é minha e aqui falamos sexo! Agora some e vai botar a roupa pra lavar antes que eu coloque você e elas na maquina - Fabrício correu para a área - É, fico feliz sim.

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     O tempo vai passando e Fabrício continua mantendo contato com sua amiga Ariana e sua mais nova melhor amiga: Rebecca. O fato dele contar para as garotas que ele tinha interesse, fez algumas se afastarem e algumas outras a se interessarem ainda pelo jeito fofo e responsável que ela tem.

Era aliviante não ter que mentir e saber que amor é um caminho complicado não pelo amor em si mas pelas pessoas que confundem e quase fazem as outras perder esperanças nisso. O garoto que descobriu-se estrela, aprendeu que não era obrigado a ter um amor para crescer e fazer sua vida, que um amor viria quando fosse a hora certa pra ambos. Que suas dores e mágoas, poderiam sim ser curados com a chegada de um amor, mas que até lá, ele deveria se consertar por si mesmo e pela vida que tinha. Fabrício continuava vindo e na espera de um alguém mas não iria parar sua vida por isso...se ele era estrela, teria que continuar brilhando.

TEXTO E REVISÃO: Raphael Maitam

Seja bem-vindo para ler esse conto e mais outros no meu livro disponível no wattpad: https://www.wattpad.com/story/118616926-versos-por-aí-segundo-volume