A desenhista e o poeta

Era uma vez uma princesa desenhista que ficava encarcerada em sua prisão-quarto...

Ela desenhava o dia inteiro sem cessar, era uma das únicas distrações que tinha. Uma vez ou outra, ela lia seus poucos livros que dormiam ao seu lado.

Ela detalhava cada rabisco ao pequeno mundo que se resumia a um quarto acromático, lá tinham apenas alguns móveis rústicos e sem graça, eles presentiavam à um gris de falta de alegria. Ela acordava e começava seus traços, às vezes, olhava pela janela que lhe dava uma vista de uma parede com lodo. Não tinham muitas coisas para se inspirar, exceto um quadro na parede.

Uma determinada manhã de inverno, com uma temperatura abaixo de 0 graus, a jovem princesa acordará e ficará sentada em sua cama olhando para a parede, onde tinha aquele quadro, a foto do pôr-do-sol a intrigava, pois nunca havia visto do lado de fora da sua cela, quem diria o sol... Ela conhecia certas coisas por livros que tinham na cabeceira.

Seus olhos fixaram e ela foi viajando em um manancial de imaginações, aquele retrato à levava para fora daquele vazio cômodo. Ela percorria uma estrada onde à sua volta haviam florestas matizadas, os bichinhos corriam ao seu lado e sorriam, ao longo na frente, tinham montanhas com formatos de corações e ao alto as nuvens cantavam canções de amor. A tenra menina tinha um solo fértil no pensar, aquela utopia transportava para um lugar onde sabia que lá seria o significado da palavra que tinha sublinhado no dicionário, a felicidade.

Os anos se passaram ali lentamente, os minutos eram como horas e ela não sabia ao certo qual era o real sentido disso.

Às vezes epifanias se confundiam com sonhos, ela a cada vez mais se distanciava da realidade.

Já próximo do fim do inverno, em uma manhã costumeira, ela resolveu fazer diferente e se debruçou na janela empoeirada, com os olhos fechados ficou ali durante horas...

Ouviu o vento uivar e um som distante dali à chamou atenção, era como de alguém falando em cantoria. O som aumentava e diminuía, percebeu que essa voz vinha do outro lado da parede de lodo.

Pelos dias que se sucederam, como que um ritual diário, ela ficava na janela esperando ouvir novamente aquela voz.

Dias frustrados foram se acumulando, e vida que seguiu...

Dois anos se passarão e ela agora não mais desenhava, uma tristeza tomará conta de sua imaginação, seu esteio que era rabiscar as folhas com seus lindos desenhos, havia perdido sentido, mais especificamente no dia que ouvirá aquele desconhecido falando.

Deitada na sua cama com lençóis carregados de choro, olhou para a janela e com uma lágrima deslizando eu seu rosto, ela ouviu um bater vindo da janela.

Ela correu para a janela e aquela parede que estava há uns 3 metros de distância, estava sendo batida com fortes golpes. Ela não sabia o que pensar e muito menos o que fazer, ficou dali alguns minutos até que as pedras foram caindo e um orifício se abriu e uma voz surgiu:

-Ei, menina, você consegue me ouvir? É você que chora toda noite?

A chorosa menina enxugou suas lágrimas e com um sorriso de canto de boca, respondeu:

-Sim!

Ela em um transe, firmou o olhar para aquele buraco e toda feliz falou novamente:

-Quem é você?

E ficou ali esperando a resposta que não veio...

Dali ela estagnou-se, por dias inteiros acampou próximo a janela e não arredou o pé tão facilmente.

Pâm era o seu nome, uma menina que foi presa na prisão-quarto por ser uma artista, num mundo onde a arte virará crime, ela e milhares de jovens artistas dos mais variados dons foram jogados em calabouços, onde ficavam esses cômodos que isolavam-os à uma vida sem cor, sem sentido e com intensa solidão.

Mas tudo estava prestes a mudar...

Passado uma semana e aquela voz que ela tanto ansiava surgiu, fazendo-a pular da cadeia e correr para a janela.

O garoto com uma voz alegre disse:

-Me desculpe, garota, mas não pude falar mais naquele dia, pois os sem-culturas entraram no meu quarto e fizeram uma revista minuciosa.

Pâm, apenas balançou a cabeça, afirmando como quem diz que estava tudo bem.

Ela estava trêmula, pois nunca havia tido contato com outra pessoa, embora falasse esporadicamente com os guardas sem-culturas, mas era diferente, ela estava agora verbalizando com alguém igual a ela.

O menino se apresentou dizendo se chamar Lippe e disse também que seu apelido era poeta.

Pâm e Lippe, ficaram alguns minutos conversando, até que a porta range e com um barulho de chave se abre, só dando tempo à ela para virar-se.

O carrancudo algoz, de aspecto animal, foi em sua direção e com suas pesadas mãos a pegou, como se joga um saco, jogou ela na cama e com um resmungo perguntou o por que dela estar perto da janela, engolindo a voz e não conseguindo responder, ela inerte ficou muda, fazendo-o esbofetear sua frágil face.

E de longe o menino olhada tudo.

E com um violento bater de porta fez o quarto inteiro tremer.

Ela se levantou, enxugou as gotas de dor e correu para seu agora conhecido, o garoto.

Lippe com uma voz suave acalmou sua amiga...

E dali ficaram conversando durante semanas e quando o amor atingirá de repente o coração de cada um, como uma flechada certeira de um cúpido, eles começaram a se amar por cada lacuna que era preenchida pelo outro.

Em todas as manhãs eles se falavam e as vezes no meio da noite conseguiam uma leve prosa.

Anos correram como o vento e aquele casal ia além do que qualquer poema de amor foi um dia, transcorriam o tempo pelo sentimento que os envolvia como um conto de fadas. Mesmo distante e sem ela jamais ter visto como seu namorado era, o afável amor floresceu naquele ambiente onde não existirá nada além do que vazio, contudo a luz e a púrpura cor da paixão brotará ali.

A amizade era muito primordial entre os dois, a dupla falavam de tanta coisa e ao mesmo tempo nada, cada um mostrava seus feitos e comentavam sobre eles.

Lippe adorava escrever para sua amada, e Pâm amava desenhar como imaginava seu nobre namorado.

Ambos eram felizes em meio ao mais insólito lugar, conseguiam tirar leite de pedra, voavam sem asas, respiravam com o coração...

Uma certa vez, na calada da noite, Lippe chamou Pâm e ela sonolenta se levantou do seu ninho e foi até ele.

Lippe começou a dizer com a voz um pouco nervosa, para ela não se preocupar, caso ele não respondesse mais, pois iria tentar fugir e resgata-la. Aquilo fez as lágrimas saírem como sangue dos olhos, soluçando, implorou para não fazer isso, dizendo que era impossível, mas com uma teimosia e uma voz corajosa, disse a ela que não podia se contentar com essa situação e que pelo amor que ele tinha, resolveu ser valente o suficiente e não iria temer mais a nada. Se despedindo e pela última vez ele recitou um poema que a fez cair em prantos...

Pâm ficou chorando durante dias e mais dias e nunca mais ouviu a voz do seu amado poeta, ele havia feito a loucura de tentar fugir e era provável que acabará morrendo... Não havia mais certeza...

Passaram se anos e numa noite seca e de tristeza profunda, na parede do quadro, um batuque começou, fazendo o quadro cair, aquela cena à remeteu para anos atrás, onde conhecera seu amor.

Congelada, ela, ficou ali esperando, e no fundo tinha alguma esperança que começou ferver sua alma. Seu coração subia pela garganta...

E quando um bloco de tijolo cai, ela podê ver um rosto sorridente e uma voz ecoou pelo quarto a chamando de meu amor, fazendo-a correr em um choro desesperado, com um sorriso mesclado ao choro, ela tocou em seu rosto e com uma singela voz disse a ele que o amava e que sentiu tanta sua falta...

O poeta contou tudo que fez para chegar até ali, foram aproximadamente 5 anos até conseguir ir para o quarto ao lado dela. Uma aventura na qual a cada dia leões eram mortos bravamente.

Barreiras intransponíveis, açoites grotescos, humilhado ao extremo e muitas outras coisas foram necessárias para o seu feito acontecer.

E agora seu sonho de infância, aquele sonho onde ela caminhava em meio a florestas matizadas, com animais sorridentes, com montanhas de corações e nuvens cantando, ele e ela eram coadjuvantes e ilustravam todo o cenário..

Ela havia conhecido o real significado da palavra felicidade, aquela palavra incógnita do seu arcaico dicionário não a intrigava mais.

Apesar de tudo, a desenhista se tornou feliz, superando todos os empecilhos, mostrou para a dificuldade, que em meio ao ódio, o amor pode existir, que em meio a solidão, o companheirismo pode habitar...

A pintura e o poema mais genuínos foram externados na vida de cada um, fazendo-os felizes para todo sempre...

"Muitas das vezes não damos valor ao que temos ou não nos esforçamos o suficiente para ir adiante".

Obs: Irei corrigir alguns erros.

Felippe Lacerda
Enviado por Felippe Lacerda em 05/10/2017
Reeditado em 07/11/2017
Código do texto: T6134238
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