Você

Suspiro, cansado, e me arrasto para o chuveiro. A água fria reanima o meu corpo, mas também me faz tremer. Seco o cabelo em frente ao espelho, onde no topo, junto a moldura, continua presa a foto que tiramos no gramado do parque.

Encaro a cama quando tenho que amarrar a gravata. Você costumava fazer essa parte. Tenho vontade de dizer “até logo”, ante de sair, mais sei que o vazio que substituirá a resposta vai doer.

Como bobagens pela manhã e finalmente tenho minha dose de café. O céu continua nublado, cinza, e é impossível não pensar em você. Crio mil histórias baseadas nos nossos encontros enquanto trabalho, perdendo o foco nos números. E todas elas, terminam com um sonhado reencontro.

Volto para casa no fim do expediente, desejando uma noite de prazer. Meu celular parece lotado de mensagens, mas sei que nenhuma delas veio de você. Meus amigos insistem em me levar para sair, conhecer gente nova, te esquecer. Porém, eu nego, insisto em ficar em casa, me alimentando da nostalgia que ainda vive ali.

Tiro parte da roupa no caminho para o quarto e me jogo na cama vazia. Abraço o travesseiro e entorto os óculos, sussurrando seu nome contra o tecido. Cochilo sozinho no meu apartamento e acordo com o toque da campainha.

Vou até a sala, irritado, pronto para dizer não a todos os convites dos colegas de trabalho. Porém, quando finalmente escancaro a porta, não os vejo ali. Perco o fôlego por um instante e te pergunto surpreso: “O que você faz aqui?”