O que ser: teoremático ou paradoxal? - Parte 2

Surto.

Surtei quando te vi, quando achei que te perderia, quando não sabia se a teria por mais uma noite. Eu perdi a razão, tive medo e enlouqueci. Eu não sabia mais como te provar que eu te queria perto de mim. Eu não sabia como dizer que você significava algo bom para mim. Eu achei que tudo se resolveria sem muita discussão. Eu perdi tudo de mim e achei que meu mundo não sucumbiria tanto assim. Você não foi, você estava lá, ao meu lado, naquela noite. Era quem eu precisava.

Sussurros.

Sussurrando a noite toda no seu ouvido, evitando que o mundo me ouvisse dizendo o quanto eu te queria, sentia tua falta. Sussurrando sobre o quanto eu queria te sentir. Você ainda era meu mundo, minha razão. Eu não sairia daquela noite sem que soubesse que você sentia algo por mim. Eu não sairia do teu lado.

Desejo.

Desejando te ter mais perto, sentir mais de ti, provar de ti como eu sempre adorava fazer; fazer teus olhos revirarem, assanhar teu cabelo, fazer teu suor uma parte de mim, olhar-te nua e beijá-la por inteira como se fosse sempre a primeira vez. Desejando ser teu naquele sábado à noite e ignorando tudo pelo qual estávamos passando, o rumo que seguíamos. Eu desejava te sentir...

Passos.

Passadas curtas, lentas, como se não estivéssemos apressados, estivéssemos calmos, desejando que aquela noite nunca acabasse, desejando estar ao seu lado e você, ao meu.

Seguros.

Após a curta caminhada, enfim, em casa, seguros. Segurando-a pela cintura, dando um beijo na sua boca, sentando no meu colo, trancando meu quarto, como se fosse a primeira vez. Seguros como o mundo nas costas de Atlas, seguros como eu me sentia ao teu lado. Segurando as tuas mãos, tuas pernas, teu cabelo, teus seios, teu corpo. Segurando você sob mim e esperando que nada me deixasse se abater naquele momento. Meus pensamentos já não tinham mais importância. A minha decisão já não era duvidosa, eu tinha certeza do que eu queria naquele momento. Eu sabia onde eu queria ficar.

Luzes apagadas.

Roupas espalhadas pelo chão, suor por toda a cama. Você, por cima; eu, por baixo, te sentindo como se fosse a primeira vez, com a intensidade que tínhamos. Gemendo como nunca, gozando como sempre, sentindo como...

Futuro.

Despejando em ti minhas futuras gerações, nossos filhos. Fazendo de ti, o porto seguro deles – tal pai, tal filhos. Um abraço apertado após a batalha mostrou que a guerra ainda não tinha acabado. Eu só achei que tinha.

Vestes.

Vestindo-se às pressas, não podendo ficar por ser tarde demais. Mas tarde para o quê? Não ficar para o quê? Na minha vida ou na minha casa? Na minha mente ou no meu coração? Ah, não, eu vou surtar de novo!

Gritaria.

Gritos no meu peito, na minha voz, na minha cabeça. Tratar-te com indelicadeza como nunca havia tratado antes. Torcendo para que fosse embora logo. Não aguentava mais olhar para ti, ouvir tua voz e nem falar mais nada. Só queria sumir. Não queria surtar.

Surtei.

Foi embora, eu fiquei. Paralisado, pensativo, confuso, estagnado, frágil, cansado. Senti saudade ou culpa? Senti tesão ou paixão? Senti nada ou senti amor? Porra! Ela não foi embora e levou meus CD’S como aconteceu com Rashid. Ela foi embora e levou minha certeza. Por que ela não ficou aqui? Aqui, com ela, eu tinha certeza de que a queria sempre por perto, mas agora que ela foi...

Confuso.

Confuso sobre o que sei, apesar de não saber nada. Confuso por eu ser uma confusão e ter a mesma na minha cabeça e no coração. Cruzando-se o tempo inteiro e nunca chegando a uma conclusão. Afinal, como saber o que sente se não é mais capaz de conhecer a si mesmo?

Adormeci.

Adormeci mesmo não devendo, pudendo, querendo. Adormeci porque eu precisava, talvez fosse só o efeito do álcool ou podia ser a adrenalina muito alta ainda e por isso estava meio conturbado, confuso.

Acordado.

Acordei e nada mudou. Tudo o que eu sentia, que eu disse, que achei que fosse verdade, não passava de utopia, de saudade. Utópico demais ao ponto de acreditar que eu conseguiria sentir o que ela merecia. Eu senti, mas não senti – tão confuso quanto eu tenho sido. Confundi tudo pela milésima vez. Ódio? Sim, de mim. Eu não queria mais ser um filho da puta incapaz de acreditar que minha vida mudaria, mas continuei sendo.

Despi o corpo, o coração, a mente, e não fiquei para apreciar. Fugi como sempre. Agi da mesma maneira como sempre. Odiei a mim, senti culpa e parti. Esqueci as fotos, as memórias, as lembranças, pela mobília da casa dela, pelas partes do corpo dela e saí. Disse adeus a única que conseguiu ganhar a minha confiança depois de anos.

Final?

Jarbas S
Enviado por Jarbas S em 08/10/2017
Reeditado em 10/02/2018
Código do texto: T6136809
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.