CAIS DO PORTO

O CAIS DO PORTO

Ele estava cansado. Velho, parecia um livro abandonado num canto da empoeirada estante do sobrado. Encostou se no corrimão da escada, era domingo. Respirou fundo, lembrou se de uma das odes de Machado. De sua janela tinha uma visão taciturna do porto e o conjunto de estrelas que descobriam suas mascaras para a noite que chegava. Cruzou a sala, abriu a porta e desceu rua abaixo. Passando defronte a igreja fez o sinal da cruz se benzeu com a água da fonte que caia da boca de uma leoa de mármore que amamentava seu leãozinho no centro da praça. Fez alguns cálculos tirou do bolso a carteira contando alguns reais, chegou a conclusão que sim dava para embebedar se, não queria pedir fiado já teve vezes em que fazia a festa para os amigos de boteco, mas agora com uma aposentadoria mirrada, não mais podia e os outrora amigos agora o esnobava. Agora os conheciam de verdade ele não mais existia para eles, mas tudo bem a vida era assim. Começou a chover, esquecera o guarda chuva ficou sobre a marquise olhando a enxurrada passar sobre seus pés. Em frente olhou a casa branca de Anita, viu toda aquela frescura. Ela fora o grande amor de sua vida, mas devido suas escolhas entre o amor e a boemia a boemia ganhou e agora ali estava diante de sua tragédia sem amor e sem os companheiros. Olhou de novo para a janela da casa e viu uma silhueta de mulher olhando o p trás da cortina. Era ela, era Anita, sim era Anita. Nunca havia se casado ele a iludiu por quase dez anos depois a abandonou pelas vadias do cais. Sim ele a perdera.

Ameaçou um balançar de mão. Ela também. Pensou em atravessar a rua. “Quem sabe quem sabe ainda há tempo” pensou; mas parou.

Ela o vendo do outro lado da rua pensou em abrir a porta.

"Quem sabe quem sabe ainda existe tempo para nos, era ele, sim ele o grande amor de sua vida” pensou também;

mas não, fechou a janela apagou a luz sentando no canto do sofá.

Ele porem olhou mais uma vez para casinha branca vendo que a cortina fora fechada ajeitou a cola do seu paletó e desceu rumo ao cais do porto.