A corda

Aninha observou o muro em frente a casa. Mas era tão alto... Não podia pular. Correu de cá e de lá. Buscou a cadeira. Com um balde, tentou emendar. Não deu certo. Quase caiu e, o balde, já frágil partiu.

Não gostava do quintal. Cansou-se de limpar, varrer, ajeitar. Mas o que fazer? Não tinha escolha. Era a vontade da madrasta, precisava obedecer. Não tinha mãe. O pai se foi. Ficou com a viúva e a avó.

– O que faz aí, menina?

– Ah, vó... Queria sair do quintal, andar pela rua, ver os rostos das vozes que a gente escuta.

– Preocupa não, filha, o mundo é como uma corda. Quando a gente menos espera jogam ela por cima do muro, então, você sai.

E o tempo passou. A corda não veio. Um dia, a menina cresceu, abriu a porta e decidiu partir. Com os pés na rua, descobriu o mundo.

Viu tanta coisa que, às vezes, sentia falta do quintal. Queria se esconder. Aprendeu lá fora que a vida tinha cor, as ruas eram cheias, as pessoas eram muitas, mas além da novidade, vinha também a dor. Agora, sabia. Conhecia rostos, mas não os gostos. E o querer era tão estranho... O que o outro falava ou fazia, não se lia no olhar. E gente bonita podia ser feia, não era raro o feio ser bonito.

E Aninha sentiu-se perdida, sem lugar, só queria correr e gritar. Certa tarde, frustrada, saiu da cidade e correu pro mato. Correu tanto que não viu um buraco e caiu. Não conseguia se levantar, não tinha jeito. Pediu socorro.

– Você está bem? – Para sua alegria, uma voz perguntou.

Ela ergueu o olhar. Alguém a escutou. De repente, viu lá no alto um rapaz. O rosto sombreado pelo chapéu. Parecia jovem.

– Espere, vou voltar e te ajudar. – prometeu.

Triste, Aninha duvidou. Passou um minuto, cinco, dez. Aninha se sentou. A gente sabe que o tempo é extenso para quem espera.

Encolheu-se no fundo do buraco. Lembrou-se da infância. Quando era menina, todos os dias, antes de dormir, ela e a avó rezavam juntas. Fez uma prece. Há tanto tempo que não conversava com Deus.

Meia hora depois, o rapaz voltou. E adivinhe? Tinha uma corda na mão. Aninha sorriu e agradeceu.

Foi aquele um moço bonito que, em pouco tempo, roubou seu coração.

E fora do buraco, já distante do mato, Aninha entendeu que a vida nos surpreende a cada momento, nem sempre para o bem, nem sempre para o mal. E mesmo que pareça descabido, tudo tem seu sentido, assim como o mundo, a corda e amor.