Da partida ao coração
Ficamos em silencio por uns 10 segundos. Ninguém criava coragem de desligar o telefone.
Então criei coragem e perguntei:
-seu trem parte amanhã em qual horário?
Ele respondeu:
-vai sair da estação as 17:00h!
O silêncio ensurdecedor tomou conta novamente. Do outro lado, ouvi um profundo suspiro de pesar.
-Okay. Até amanhã então!
E ele:
-Okay!
Chegou o dia da partida, chegou o dia do adeus. Não havia nada que eu poderia fazer para impedir. E nem poderia. Que ser humano seria tão egoísta a ponto de interferir no sonho do outro? Se você o ama por que iria querer vê-lo frustrado?
Vai ver que partir é preciso. É preciso partir para querer voltar. É preciso não ter para sentir falta. É preciso chorar para sentir que há lágrimas.
Às 16:00h cheguei na estação de trem. Eu quis me assegurar que não chegaria atrasada.
Sentei em um banco próximo ao embarque. Enquanto o relógio insistia em me mostrar que chegava a hora, fiquei observando os trilhos, tão esguios, tão longínquos, tão fortes.
Quantas vidas devem ter passado por esses trilhos, e quantos "adeus" e quantos "seja bem-vindo".
Mas hoje eu não teria essas opções, apenas a despedida.
Senti um calor se aproximar das minhas costas. Ele beijou meu pescoço e disse aquele "oi" com o sorriso no olhar.
Ele estava feliz. Ele queria viver aquele sonho. E eu por dentro dilacerada, como poderia implorar para que não fosse?
Dei um forte abraço nele e sorri. Fingi que estava achando ótima aquela experiência que ele iria viver. Na verdade, eu estava no fundo do poço.
Disse ele:
-17 horas! Está na minha hora! Vou indo nessa! Te mando mensagem quando chegar lá!
Eu já estava com o rosto coberto de pranto. Só consegui dizer:
-Se cuida!
E baixinho eu disse para ninguém escutar:
-Te amo!