Duas trajetórias cruzando como as linhas de trens. Meu pai e as 29 cartas de dezembro.

Anos 60.

Um garoto de apenas 15 anos,bera forçado pelo seu pai fazer trabalhos agrícolas, mas, seu maior desejo era estudar.

Residente da área longínqua, entre as divisas de Pernambuco e Alagoas, uma cidade chamada de Bomconselho de Papacaça.

Como se ouvia naquela região, a escola ficava a léguas de sua casa.

Mesmo, contra a vontade do seu pai, que tinha o atrasado pensamento de que estudar era natural do sexo feminino.

O garoto fugiu de casa e de carona, parou em São Paulo, lá, residiu com sua madrinha e conseguiu se dedicar ao que mais queria, estudar.

Para ajudar na renda e seus gastos, trabalhou como cacheiro viajante.

Ao completar 17 anos e alguns meses, voltou a Pernambuco para se alistar no serviço militar obrigatório, como, não poderia ser diferente, ficou no serviço, contra sua vontade, mas, ali, fez carreira, pode se formar em direito, medicina legal, datilocopista e outras especializações. Em pouco tempo dentro das forças armadas, passou no curso de formação de cabo e também ao de sargento.

Não tirava folgas e nem férias, pois, guardava mágoas daquele passado vivido em família.

Conheceu uma jovem enfermeira e logo se comprometeu.

Mas, chegaram notícias do interior do estado, seu pai havia tentado esfaquear sua mãe, por conta de um surto de ciúme.

Ao chegar na sua cidade natal, com sua roupa de gala, dirigiu-se a delegacia e deu a ordem de soltura de seu pai.

Do relacionamento com a enfermeira, nasceu o primeiro fruto em novembro de 69 e culminou com o sexto em junho de 92.

Falarei, de outro garoto, bem nascido, numa maternidade da cidade de Paulista, cidade da região metropolitana do Recife, fato ocorrido em 13 de junho de 1979.

Não, demorou, muito para que a vida, fosse tão dura, como a do outro garoto.

No dia, 13 de agosto daquele mesmo ano, sua mãe, havia o deixado, sob a responsabilidade de uma babá, enquanto fazia exames relativos a sua saúde.

Assim, que chegou em casa, a vizinha, entregou-lhe o bebê dormindo e a chave da casa, repassando a informação de que a babá saiu às pressas, por algum motivo.

Bem, a jovem mãe, agradeceu e foi para casa, para cuidar de todos os filhos, que eram 4 já com autonomia e o bebê.

Mas, foi, na parte da manhã do dia seguinte, que notou uma anormalidade, o bebê não acordou para se alimentar ou para qualquer outra coisa, junto com o jovem marido, dirigiram-se ao hospital e após exames, se constatou um quadro de coma e ovestado perdurou por 15 dias, naquele ano, não se haviam muitos recursos para una real avaliação, mas, o bebê foi submetido a uma cirurgia a laser para retirada de uma contusão cerebelar, fruto de uma queda proposital, análise dos exames comprobatorios, tendo, em vista, a atitude suspeita de babá, logo, instaura a culpada.

Com procedimentos e intervenções cirúrgicas caras, a família se desfez de casa própria, carro e mudaram de cidade, para dar suporte logístico a todos os filhos.

A desesperança crescia a cada falta de diagnóstico médico, mas, o jovem pai, não desistia, então, ao fim do décimo quinto dia daquele coma disse:

Camutchatchele, dê um sinal para seu pai, estão falando para desligar as máquinas para lhe deixar descansar.

O bebê mexe o braço esquerdo e era um sinal do fim do coma.

Eis que começam os tratamentos, diagnósticos errados e intervenções cirúrgicas que deixaram, sequelas, enfraqueceram os músculos dos membros inferiores da crianç.

Mesmo dessa maneira, foi criado com amor e carinho, sem diferenciação dos demais irmãos.

Pois, é o garoto dos anos 60 meu pai, o bebê de 79 eu.

Nossas história nem se cruzaram, pois, é a mesma.

Um elo assim não se quebra fácil, nem mesmo, com uma morte indesejada.