Eu te perdoo

Pareço o reflexo daquela imagem de anos atrás, uma figura torta que vem se extinguindo ao passar do tempo. Penso no dia que o céu enegreceu de vez, ainda penso na mulher de olhos expressivos e cabelos longos... O meu eterno amor...

Sentado na cadeira de balanço, em uma varanda de fronte a um campo aberto, ali estou, entoando canções ao vento, olhando para o meio do nada. O eco da minha voz vai afora do que eu estava sentindo, percebo que essas sensações são decorrentes da foto que achara nessa manha dentro da mesa de cabeceira...

Fecho os olhos e por alguns minutos me prendo, e o rosto encantador de minha doce e amarga lembrança, invade meu pensamento, ao mesmo tempo um desamparo finca uma estaca de fogo no meu coração, sensações antagônicas esmagam, dilaceram a minha alma, abro os olhos e ainda assim consigo vê-la, partindo, inquieto, as lágrimas escorrem feito cachoeira de sangue pela minha face, caio em um choro profundo, pensando naquele dia que ela se foi e nunca mais voltou.

Em pensamento início uma luta e começo a pedir perdão, sem saber se isso teria algum efeito...

Levanto-me e começo a andar pela varanda, tento não mais pensar, mas o fantasma do passado agora me assisti sentado na cadeira, entretanto um vento leviano começa assoprar em meu rosto e com ele um aroma de paz começa a emanar por toda a parte, respiro, suspiro, vou acalmando e sento-me no chão, olhando para um horizonte sem fim, me deixo levar pela brisa bem cheirosa que exala e ao mesmo tempo assobia uma cantilena suave...

Novamente de olhos fechados, começo a ouvir uma voz que diz: "Eu te perdoo".

Um pranto inigualável estaciona sobre o chão de madeira, se cria uma poça de dor e alívio.

A essa altura viajo para o dia que a minha amada partira, depois de uma costumeira discussão em que eu tive a infelicidade de mandar ela morrer, e foi o que houve, minutos depois, ela pegara a estrada e dois quilômetros à frente, seu carro é atingido por um caminhão vindo na contra mão, morrendo na hora.

O remorso que um dia me consumiu, estava partindo, eu sentia um peso descer de minhas costas, não sabia se era Deus falando comigo, fiquei intrigado, contudo, pensei que talvez fosse mesmo um recado dela para mim...

Nesse dia o fardo que vinha me impedindo de viver foi arrancado e jogado fora para bem longe.

E fiquei dali da varanda, recordando das vezes que fomos felizes juntos...

Felippe Lacerda
Enviado por Felippe Lacerda em 07/02/2018
Reeditado em 07/02/2018
Código do texto: T6247397
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