Por impulso...

Era fim de tarde, a livraria estava movimentada. Brian ainda se perguntava o porquê de estar ali. Um impulso. Ele sabia onde encontrá-la, mas sua intenção, não era ser visto. Por isso pegou o elevador, foi direto ao terceiro andar da loja. Depois de tantos anos nenhum dos rostos que passavam por ele de uniforme era conhecido, a não ser pelo dela. Tinha uma certa magoa daquele lugar. Acreditava que se ela não tivesse entrado ali as coisas poderiam ser diferente. O que ele nunca entendeu é que ela simplesmente teria mudado de qualquer forma , pois é isso que a vida faz com as pessoas.

Por de trás de um cubo de exposições de livros próximo a grade , conseguiu ter vislumbres do movimento do piso infantil. Não demorou muito pra reconhecê-la. Primeiro porque nunca esqueceu seu modo de andar. E para seu espanto ela ainda se vestia feito a menina que ele conheceu a tanto tempo. Parecia mais uma adolescente do que a mãe que era no momento. O par de ténis tipo skatista colorido os fez sorrir , tinha o habito de implicar com os sapatos dela. A saia rodada balançava feito sino quando ela andava.

Ela estava encostada no terminal de consulta, uma perna dobrada sob o balcão, um habito que nunca perdera. O telefone na orelha. Não conseguia ver seu rosto, seu cabelo preto estava solto e passava um pouco dos ombros. Ela nunca gostara de cabelo curto de mais. Algo que realmente o atraia. O fato de estar escuro ainda era novidade para ele.

De longe ele viu um cliente se aproximar. Ela pareceu ficar rígida por um momento, endireitou os ombros e baixou o pé do balcão, mas sem se virar para quem chegava. Quase como se sentisse a presença dele. Ainda assim finalizou a ligação antes de olhar para o cliente ao seu lado. Como se estivesse evitando o contato, talvez pensando que pudesse ser ele.

Quando finalmente tirou a cortina de cabelos negros dos olhos e virou-se pro cliente, Brian viu seu rosto sorrir ao cumprimentar o homem , mas feito uma sombra passou por sua expressão um ar de decepção. Ela sabia, de alguma forma, que ele estava ali. Com receio de ser descoberto ele se afastou da grade , manteve-se a uma distancia que ainda permitia vê-la.

Roselie puxava livros e mais livros das prateleiras com a certeza do que estava fazendo. Sorria e se animava contando a historia dos mesmos. Ela sempre fora assim, ficava feliz em mostrar mundos imaginários aos outros. O som da sua risada com o comentário de um colega ecoou ate ele. O fez lembrar das noites em que ela lia para ele.

Num impulso maior do que o fez chegar ali deu as costas a grade e desceu correndo as escadas. Precisava ir embora. Aquela vida havia ficado no passado. Não podia simplistamente chegar nela e esperar que ainda sentisse algo. Nem mesmo ele sabia o que estava sentindo. Fora loucura ir ate ali. Quase que pra instigar a própria dor e a magoa que sabia, apesar de não querer admitir que ainda sentia dela.

Fugiu como ela fizera a tantos anos. Sem se explicar, sem olhar pra trás. Mas ciente de que ainda a amava.

flordylys
Enviado por flordylys em 06/03/2018
Código do texto: T6272237
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.