Metafourada (ou conto sobre uma não-correspondência)
Quando as comportas se abrem, a primeira sensação é de presenciar uma supernova de perto, de tão ofuscante que é o brilho exterior. Todos os seus sentidos, via visão, se tornam um só: Confusão. Após o aturdimento momentâneo, divisa-se o rachar do chão seco e pedregulhoso, junto com um ponto singular no limite do horizonte, imóvel, hipnotizante, a segurar uma vibrante flâmula vermelha. Frente aquele cenário desolador e ruidoso, parece ser seu porto seguro e, ingenuamente, você se aproxima confiante, de peito mais que aberto: entranhamente exposto!
O ruído aumenta consideravelmente, mas o foco é na glamourosa bandeira a bailar para lá e para cá. Nesse momento, desejar a bandeira é como desejar a si próprio narcisicamente! O semovente que a carrega e a balança é o coadjuvante daquele espetáculo escarlate! Você, crente na sua robusteza física, não antevê perigo algum, apenas contempla sua imagem movimentando-se graciosamente!
Quando o ímpeto de possuí-la se torna irresistível, o avanço ligeiro acontece e...nada acontece. Como pode ser possível sofrer apenas os efeitos da inércia, sem se queimar naquela chama de uma labareda só? O fascínio surge e o rugido ao redor aumenta! Tento uma, duas, três vezes, e nada!
Frustração, irritação, autopunição. Cônscio de sua iminente derrota, você tenta a última abordagem fulminante, visando o alvo. Só que, desta vez, não é só você que alveja e, infelizmente, é só o outro que acerta com precisão! Ainda há espaço para surpresa, por incrível que pareça. E, mais incrível ainda, há espaço para admiração.
A caça cansa, mas, quando se é caça, só lhe resta a carcaça...