Fora de você

Eu desembarco em Buenos Aires, existem bilhões de pessoas ao meu redor, mas são todas estranhas.

Nenhuma delas já imaginou a maneira como você sorria ou falava quando era criança. O sol morre através do vidro, outroalerta da imigração toca, a sala está cheia, as pessoas ainda se movem, nenhuma sabe de você.

Eu perco paço, penso no que parece ser estar livre, vejo você em um silêncio, perco o ar novamente. Parece que o mundo me assiste esperando fraquejar, mas fraquejar é uma palavra tão farta. Eu consigo de olhos semicerrados chegar no guichê. O policial me pergunta o que venho fazer nesse país tão frio e humido, digo que estou de passagem. Ele me pergunta onde ficarei, digo que passo por uma conexão. Finalmente alguém me oferta um boa noite, depois um sorriso. Eu retribuo, algo está copiado. Lembro dos amigos que fiz, das coisas que aprendi, do como e o que pode ser a felicidade. Me comparo com um filme, sinto sua falta. Rio. Me sento. Penso em você cada segundo com mais força. O vento se move com seus braços humido e gelados. Me levanto e saio. Eu sei que não é outra pessoa respondendo. O silêncio toma conta do tempo. Penso em você. Me assisto sorrindo, me assunto. Penso nas frases, elas se dividem. Lembro que cinquenta por cento de nada é realmente bom. Creio que aprendi muito.

Converso com dois pescadores. Penso em você, no silêncio, em ter coragem em esperar. Às vezes é difícil. O sol nasce. Embarco.

Yuri Santos
Enviado por Yuri Santos em 01/05/2018
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