Ao amor, meu devaneio forçado - parte 2

Então, permaneci em silêncio quando você partiu. Por tempos, me calei, evitei falar sobre. Enquanto perguntavam-me a razão, apenas silenciava. Nenhuma resposta, nenhum xingamento, nenhum elogio. Apenas o silêncio. Haviam se passado uma semana e minha mente parecia um inferno em festa - corpos quentes dançando ao som de uma sinfonia atormentadora. Eu precisava acabar com aquilo.

Risadas ao fundo de onde eu convivia, alguns já deveriam saber como tudo aconteceu. Apenas seria repassado de um lado ao outro rapidamente. Eu suspirava fundo, mantendo a calma... As risadas continuavam e eu não conseguia aguentar. O silêncio havia sido a maneira que eu encontrei para lidar, por mais que eu ainda lembrasse de cada detalhe.

Sai. Levantei-me e sai, sendo bombardeado com olhares violentos. O meu eu não precisava lidar com aquilo. Não podia ir para casa, pois lembraria dela. Fazia uma semana que eu não entrava em casa, deveria estar exatamente como ela deixou - a cama bagunçada, a louça suja, as taças sob a mesa. A cena ainda se repete na minha cabeça, tomando conta de todos os momentos que passamos juntos. Eu não lembrava de mais nada que fosse bom.

Acelerando a mais de 80km/h, fugi para o mais distante que pude. Isolei-me, precisava fugir da realidade, das frequentes ligações ao meu celular, mensagens enviadas de pessoas curiosas. Precisava de paz, precisava respirar um ar mais tranquilo, ter o que não venho tendo e não terei tão cedo.

O sol estava se pondo quando cheguei. Subi ao ponto mais alto da cidade, sentei sob o capô do carro e puxei meu maço. Era tudo tão calmo dali de cima. Eu olhava a cidade inteira com o brilho desvanecido dos meus olhos e um trago profundo no cigarro. A fumaça subia enquanto meus neurônios pareciam tranquilizar-se aos poucos. A festa parecia estar chegando ao final... Silêncio ao redor. Sem pássaros, sem música, sem sinal, apenas minha respiração, apenas minha voz.

"Eu queria esquecer tudo. Eu queria nunca ter me envolvido. Eu queria nunca ter saído. Eu queria nunca ter começado a fumar quando te conheci. Eu queria nunca ter discutido contigo tentando provar que eu estava certo. Eu queria ter te dado atenção quando você começava a falar sobre o que queria para o seu futuro. Eu queria ter sido intenso do começo ao fim. Eu queria não ter mudado, mas eu mudei. Eu piorei enquanto você não merecia. Eu lembrei. Lembrei de quando eu te fiz chorar e não fui lá, te abraçar e pedir desculpa. Eu deveria ter percebido o quão culpado eu fui por te perder ao passar dos dias. Você foi me abandonando e eu não percebi. Eu fui egoísta e olhei só para mim, me preocupei só comigo. Eu deveria ter notado quando você preferiu ficar quando eu quis que viesse. Eu te perdi aos poucos e não notei."

Eu conversava sozinho. Eu tentava entender o que tinha acontecido. Eu sentia saudade dela, por mais errado que fosse. Ela me ligou nos dois primeiros dias, mas eu não atendi. Eu não atendi porque era impossível entender, ouvir, sentir tudo aquilo de novo. Eu não conseguia mais olhar nos olhos dela sem lembrar dela se vestindo rapidamente, implorando para que eu entendesse, se cobrindo. Eu a odiava e a odeio pelo o que me fez sentir, mas ao mesmo tempo queria tê-la por perto. Eu não sei lidar com tudo isso. Eu não consigo sentir e não sentir nada por ela. Eu a amava, mas como eu iria olhar nos seus olhos, lembrando de tudo?

Como eu sobreviveria próximo dela sabendo que ela poderia me destruir a qualquer momento como fez?

Jarbas S
Enviado por Jarbas S em 01/05/2018
Código do texto: T6324640
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