Amor e liberdade

Amor e liberdade se confundem num princípio comum. Melhor ainda, ser e permitir que seja livre, dois ramos importantíssimos do amor.

Katarina era sinônimo de liberdade. Miguel de aceitação. O amor é isso, o amor num plano maior. A maioria de nós confunde amar com escravizar. O amor até pode ser um de ser um oásis no deserto, jamais uma prisão. Pode matar a sede de uma alma, jamais aprisiona- la. O espírito é intrínsecamente livre. Voa, portanto,  para aonde deseja. - É o que sempre dizia Miguel.

Eles se conheceram, ou melhor, encontraram-se nesta existência através de uma famosa rede social. Katarina era uma linda e, naturalmente, sedutora mulher de 28 anos. Cabelos cacheados e negros, pele clara, corpo perfeitamente esculpido pela natureza. Pés e mãos pequenos,  delicados. Era professora de literatura e extremamente inteligente, sensível. Tinha uma filha de oito anos, que não foi abandonada pelo pai, como é muito comum.

O pai era um engenheiro digno e cumpridor de suas responsabilidades. Tinha aliás, uma ótima relação com filha. Não tinha ainda, após oito anos de uma curta relação com Katarina, conseguido esquecê-la. Mas já não tinha esperança de ter algo com ela da forma que ele entendia ser bom. A sua visão de relacionamentos,  aliás, era bem tradicional. E, por isso, mesmo seguiu sua vida.

Miguel tinha um metro e setenta e cinco, também cabelos cacheados, mas loirinho. Ombros largos, corpo de quem não descuidava da alimentação e saúde. Professor de física, amante da área de exatas,  mas acima de tudo da arte de compartilhar conhecimento.

Moravam em cidades diferentes, oitenta quilômetros distância. O que em nada impedia que tivessem uma ótima relação. Eram duas almas que tinham muito em comum. Minguel era mais tagarela, empolgado,  no começo. Mas katarina, que era difícil de confiar em alguém, era muito intensa. E, quando confiava, entregava-se completamente.

Fisicamente eles eram harmônicos também. Era questão de encostar um no outro e pegavam fogo. Era sexo com muito amor. Porque era sempre consequência da harmonia espiritual que tinham. Era uma entrega total de seus corpos, porque já tinham esta entrega de almas. Era amantes amigos. Eram ouvintes um do outro. Eram extremamente companheiros.

E esta relação bem fora do comum já durava três deliciosos anos. Que pareciam séculos, por tudo de especial que passavam juntos.

Às vezes ficavam uma semana toda sem se ver. Ou mais. Aliás, Katarina, que morava sozinha com sua filha, tinha seus períodos de enclausuramento. Nem mesmo a sua mãe ela respondia. Dona Vilma, mulher forte e batalhadora. Mais tradicional que Katarina, no entanto.

Certa vez, preocupada, eacreveu na linha do tempo do Facebook de Miguel, entre a ironia e a irritação:

- Meu filho, você pode pedir para sua namorada/ esposa responder para a mãe dela? Estou preocupada e sei que ela te ouve mais que a mim.

O rapaz respondeu em tom de brincadeira também, mas com a sinceridade na essencia de suas palavras:

- Claro, querida sogra. "Isso fica muito felz em ser útil.

Mas antes preciso perguntar quanto tempo Katarina demora para lhe responder. Pois apesar da minha boa vontade,  talvez eu não possa ajudar, haja vista a natureza extremamente livre de sua filha. Devo avisar que a mim ela costuma demorar três dias em média para responder.

Dona Vilma conhecia Katarina e sabia que Miguel estava certo. Conhecia também o amor de Miguel por sua filha e isso de certa forma a deixava muito tranquila.

Ela sempre, como a maioria das mães,  preocupou-se muito com sua filha. Mas sabia que eles estavam em boas mãos. Que um cuidava do outro sem prender. Que um era o abrigo do outro nas tempestades da vida. Um incentivava o outro a buscar seus objetivos e viver cada um suas próprias vidas. O amor que sentiam um pelo outro, e que apenas  aumentava com o passar do tempo, era fruto desta compreensão de que amar é cuidar e não escravizar. De que o amor pode até ser um oásis no deserto. Jamais uma prisão.