No sertão a vida é doída seu moço

"Trabaio" desde cedo na roça, não me "alembro" do primeiro dia na escola, os tempos eram "difícil", "prantava" palma pra "dá di cumê" pros "boizin" e as vaquinha "leitêra", as vezes quando não tinha água também era nosso sustento. Farinha nunca "faltô", quando tinha ovo era uma "festança", um banquete que nem esses de "doutô", mas era feliz sabe? "Coinci" uma moça, dona de uma formosura só, fiquei "treis mês" tentando fazer "brotá" uma "rosêra" debaixo da minha janela, que era pra eu cuidar todo dia. Regava a "roserinha", ela não nascia, mas na minha barriga já havia um jardim, com flores e um monte de borboleta que aparecia sempre que pensava nela, "oh muié danada de bonita", tão doce, tão meiga... O "sinhô" sabe que "escrivinhei" um poema "praquela" moça e ainda estou aprendendo o "BÊ A BÁ"? depois lhe pago uma pinga em agradecimento, mas o senhor vai ajudar a me declarar! "Vamo lá":

"CARTA DE UM CABOCLO SOFREDÔ"

A SAUDADE CONSOME,

NÃO FOI O SOL,

TAMBÉM NÃO FOI A SEDE,

NEM A FOME QUE ME MATOU.

FORAM TRÊS MESES

TENTANDO FAZER BROTAR

A TAL DA ROSEIRA,

PARA PRESENTEAR

A MOÇA MAIS LINDA

JAMAIS VISTA,

NO SERTÃO E ATÉ MESMO NESSA VIDA.

PRESENTE DE DEUS

PRA ENCHÊ OS OLHOS

DESTE POBRE CABOCLO

SEM FUTURO E SEM EDUCAÇÃO,

QUE SÓ TEM AMOR PRA LHE OFERECÊ,

A ROSA NÃO VINGOU,

MAS QUERO PRESENTEÁ-LA

COM O QUE TENHO DE MAIS VALIOSO

O MEU CORAÇÃO.

(...) Agora o "sinhô" manda pra minha senhora, daqueles 3 meses, se passaram décadas e não tenho mais tempo, preciso dizer logo que a amo e que esperei por todos esses anos. Que não me abandone, que deixe-me amá-la até meu último suspiro, mas com ela ao lado. Obrigado seu moço, agora chega, é hora da nossa pinga da gratidão.