Maria; (ponto e vírgula)

Ela acordou mais cedo, fingiu costume.

Já que tão peculiar é acordar no amanhecer do dia para ela.

Preparou seu café forte e amargo,

exalou o cheiro pela casa.

Lembrou que ele também gosta do quente,

do amargo e do cheiro.

Ambos apreciam tal fato,

pois tem cara e acalanto de casa e cheiro de vó.

Não tomou em xícara,

pegou um copo americano daqueles de boteco

que não esfria a cerveja, só pela lembrança de que ele não gosta de canecas ou xícaras.

Ela sentou na terra molhada ainda de pijamas e meias,

havia caído pequenas gotas de chuva.

Ele adoraria vê-la deste modo e de cabelos despenteados.

Respirou fundo e sentiu o cheiro dele,

tão presente e tão peculiar.

Foi tomada pela lembrança e surpreendida por uma lagrima descendo sua face,

cujo ele sabe perfeitamente cada detalhe da cor de sua pele,

suas sardas e seus sinais: Era saudade.

Ele sabe exatamente os detalhes de seu corpo, não perfeito, porém com curvas só dele.

Maria consegue sentir o cheiro dele em qualquer lugar,

até mesmo no café,

que nada impediria de ser um destilado,

indiferente da hora que era o amanhecer,

já que ele não se importa no que tomar pelas manhãs.

Sim, de fato ele a faz chorar, a faz sentir o peito apertar,

mas de alguma forma ela ainda cultiva um jardim de amor e todas as manhãs rega as flores mais bonitas,

e não consegue não rega-las,

e quando vem as borboletas, ela o sente perto.

De fato, ele nunca a mandou flores,

nem ela nunca as recebeu de outro alguém.

Tampouco passaram um fim de semana juntos e pegaram a estrada ao som do trecho " e até quem me vê lendo jornal sabe que eu te encontrei".

Nunca foram ao cinema,

nem nunca conheceram amigos um do outro.

Nunca andaram de mãos dadas na beira da praia.

Sentada sentido o cheiro de terra molhada,

ela como um breve filme, sonhou acordada que ele poderia fazer parte de mais um de seus escritos,

e que tudo aquilo que almejava pudesse de fato vir à tona e virar poesia, mesmo que metafórica de se contar.

Não virou livro,

nem poesia,

virou apenas um trecho de página de cordel.

Pelo hiato da distância, redundantemente,

não a deixou que ela continuasse a escrever o número par da regra de três, onde o princípio foi numa mesa de bar com um beijo de orelha. Sim, pode soar estranho,

mas foi assim que ela se entregou a ser sua Maria.

Ainda Apreciando seu amargo café num copo de boteco que por sinal já estava frio, cujo amargo poderia também associar-se a o amor que ela nutre,

Maria não sabia quando, nem como tudo iria ficar na falta daquela presença incessante, dele.

Digo que ela jamais seria amarga como seu café, tampouco fria,

com ele e aqueles olhos que a fitam como refletores e aquela barba tão deleitável.

Simplesmente, sentada ali, meio aquele cenário tão bucólico,

olhou para trás da linha do tempo do pouco tempo de ambos, e sorriu, afinal mesmo que ele só tenha sido dela por uns poucos dias ou instantes, a flor dele continua a ser cultivada por todas as manhãs, ou tardes, a depender do humor do dia dela, marcante por sinal.

Ela continua a frequentar lugares que simplesmente o lembram, só apenas para lembrar-se do sentimento terno, forte, afetuoso, que sente. Ela apenas não o tem. E não sabe se terão um livro de histórias. Porém o ama.

E por mais que o tempo não permita a escrita de uma história,

Ela sempre será a Maria dele.

Marinara Sena

12/07/18

23:48pm

Marinara Sena
Enviado por Marinara Sena em 13/07/2018
Reeditado em 23/05/2021
Código do texto: T6388684
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