Imaginei isso tantas vezes

[Continuação de "Ilusões de romance"]

Marsha havia convencido Cindy a correr com ela em Lansbury Park, uma área verde ao norte da cidade, cercada por aprazíveis condomínios residenciais de classe média, e onde os locais costumavam praticar jogging ou fazer piqueniques. Haviam chegado lá no velho Fusca de Marsha, uma relíquia com mais de 30 anos de idade, pintado chamativamente de fúcsia.

- É um modelo mexicano - informara Marsha, quando Cindy lhe perguntara onde achara o carro. - E a cor é original.

Havia um estacionamento na entrada do parque, e ali deixaram o carro sob uma árvore. Enquanto faziam o alongamento, Marsha explicava o plano de atividades:

- Caixa de supermercado é uma atividade sedentária, então é bom que desenvolva uma atividade física regular. E, por sorte, você tem a mim, que posso ser sua personal de graça.

Piscou um olho para Cindy, que sorriu.

- Mas eu não posso vir correr todo dia aqui, mesmo que você queira me trazer...

- Para manter o condicionamento físico, duas ou três vezes por semana serão suficientes. O importante é que você não fique mais de três dias sem treinar, certo?

- Acho que consigo... - avaliou Cindy. - Se você vier comigo, claro, ficarei mais motivada.

- Fazer atividade física tendo companhia, sempre é mais agradável - arguiu Marsha.

Tinham combinado de correr por 15 minutos nas primeiras sessões, para que Cindy se acostumasse ao ritmo, mas ela se sentiu tão bem, correndo na manhã ensolarada pelas trilhas de terra sob as árvores, ao lado da amiga, que estenderam o trajeto por mais cinco minutos.

Ao fim do exercício, suadas e felizes, sentaram-se num banco de madeira próximo ao estacionamento onde estava o Fusca.

- Acho que vou gostar de correr... - declarou Cindy, limpando o suor do rosto com uma toalhinha. - Dá um... barato... na gente.

- Serve também para desestressar - garantiu Marsha. - E, por falar nisso, como vai o seu paquera?

Cindy apoiou o tornozelo direito sobre o joelho esquerdo e segurou a perna, expressão contraída.

- Ele me deu carona para casa algumas vezes... mas eu pedi que parasse de fazer isso. Não quero ficar falada no supermercado...

- É isso o que você quer realmente? - Inquiriu Marsha.

- Isso... o quê? - Cindy a encarou, surpresa.

- Não vê-lo mais?

Cindy soltou a perna e inclinou o corpo para trás, apoiando os cotovelos no banco e involuntariamente projetando os seios sob a camiseta. Marsha mordeu os lábios, encarando-a.

- Acho horrível ter que admitir isso... - murmurou Cindy. - Mas às vezes eu penso se não deveria ceder ao que ele quer...

Marsha não conseguia desviar os olhos dela.

- Apenas pelo sexo? - Indagou.

Cindy voltou-se para ela, em silêncio, e balançou afirmativamente a cabeça. Marsha segurou-a pelo braço.

- A virgindade é algo realmente importante para você?

Cindy baixou o olhar.

- Sim - respondeu ela.

Marsha diminuiu a pressão no braço.

- E você acredita que sexo é apenas algo que envolve penetração... e que acontece entre um homem e uma mulher?

- E como poderia ser diferente? - Indagou por fim, sentindo o olhar de Marsha cravado no dela.

Marsha respirou fundo.

- Sexo é aquilo que as partes envolvidas definem ser sexo.

E, pegando Cindy pela mão, para que se erguesse, acrescentou:

- E não precisa, necessariamente, envolver a perda da virgindade.

- [Continua em "E depois"]

- [20-07-2018]