Obsessão de Milo III

Parte 2: https://www.recantodasletras.com.br/contos-de-amor/6397409

Eram aproximadamente 8 e 45 da noite quando Ulisses levantou-se de sua poltrona vermelha para fazer uma ligação. Pegou em sua agenda o endereço da casa de Catharina que havia conseguido nas fichas do hospital, e ligou para um táxi. Alguns minutos depois, a campainha tocou.

- Amélia? – ele havia esquecido-se dela – O que...

- Sei que você está me evitando, mas precisava vir – ela passou pela porta sem esperar um convite. Acomodou-se em uma das poltronas e esperou que ele se sentasse em outra.

- Não é um bom momento agora.

- Nunca será um bom momento – ela respondeu, breve – Ulisses, somos amigos há muitos anos, de longa data. Não quero que nada fique estranho após aquela noite. Eu estava bêbada, você mais ainda. Será que podemos parar de nos evitarmos?

Ele hesitou por alguns segundos e sentou-se ao lado dela.

- É claro. – ele respondeu com um sorriso no rosto – Você sabe que sinto um carinho enorme por você!

- Carinho? – ela parecia incomodada – Será que posso me servir uma taça de vinho?

- Na verdade, eu estou esperando visita – ele começou, mas ela já havia levantado em direção ao bar e começava a servir-se de um bom vinho branco.

Amélia encaminhou-se em direção à poltrona e sentou-se novamente ao lado de Ulisses.

- Apesar de tudo – ela começou a falar, enquanto encarava-o nos olhos – Não me arrependo do que aconteceu. – seus dedos roçavam suavemente pela parte interna das coxas de Ulisses. Ele afastou-se levemente – Não ligaria se acontecesse de novo!

Ela inclinou-se ligeiramente em direção à ele e deu-lhe um beijo, que foi interrompido por ele.

- Amélia, não vamos confundir as coisas! – ele se afastava dela, enquanto a mesma começava a acariciar-lhe o membro e a passar a língua em seu pescoço.

- Não se preocupe, não estou confundindo! – ela continuava – Sei que não sou realmente aquilo que você quer, mas posso tentar...

- O que você quer dizer com isso? – ele tentava em vão desvencilhar-se dos beijos e carícias de Amélia.

- Você sabe, não precisa esconder de mim...

A campainha tocou neste exato momento.

- Eu preciso atender! – ele correu rapidamente em direção à porta.

- Catharina!

- Boa noite, doutor. – ela adentrou à casa e reparou em Amélia – Não é um bom momento?

- Não, não se preocupe – ele adiantou-se para pegar o casaco de Amélia – Minha amiga já estava de saída.

Amélia, contrariada, pegou o casaco e deu uma ríspida e demorada examinada em Catharina.

- Que interessante! – ela falou, debochada – Nós nos conhecemos no jantar, não foi? Lorena?

- Oh, sim! Muito prazer em revê-la! – Catharina estendeu a mão. Por alguns segundos, Ulisses pensou que Amélia não fosse retribuir o cumprimento, mas enganou-se.

- Achei que fosse acompanhante de luxo – ela continuou – Mas não sabia que estas atendem a domicílio.

- Catharina está aqui por questões familiares! – Ulisses interrompeu-a.

- Catharina? – ela parecia confusa.

- É meu nome verdadeiro. – Catharina parecia confusa – Não se preocupem, eu já estou de saída. Não vou atrapalhar o assunto de vocês. – ela já estava abrindo a porta quando Ulisses a segurou pelo braço.

- Espere! – ele não a deixou ir – Amélia, por favor! – ele a entregou seu casaco – já foi demais por hoje.

Ela pegou seu casaco e retirou-se. Antes de chegar ao carro, virou-se e falou em tom alto:

- Não se iluda, Catharina. Não faço realmente o tipo dele, nem você – ela parecia debochada – Somos... Como seria a palavra ideal? “Completas” demais. – ela entrou no carro, deixando Catharina confusa sobre o que fazer.

- Sente-se, por favor – ele pediu à Catharina, recolhendo seu casaco vermelho. Ela trajava uma saia curta e uma blusa vermelha, contrastando perfeitamente com seus cabelos ruivos. Sentou-se pouco à vontade na poltrona e esperou que ele começasse o discurso.

- Quer beber alguma coisa? – ele perguntou.

- Vinho, por favor. – ele entregou-lhe uma taça com o melhor vinho de sua adega. Sentou-se na poltrona à sua frente e acendeu um charuto.

- Você tem muitas estátuas – ela comentou, reparando em inúmeras pinturas e réplicas de estátuas de Venus de Milo pela casa.

- O que posso dizer? Sou um apreciador! – ele sorriu deu um trago no charuto.

- Bom, então – ela começou – por que estou aqui?

- Eu lhe chamei aqui por uma razão, e não quero que me leve a mal antes que conclua meu discurso.

- Não se preocupe, não pensaria mal de alguém que ajudou tanto a minha mãe! – ela respondeu verdadeiramente.

- Catharina, você é uma moça muito especial. Desde que entrou em meu consultório, percebi em você uma beleza extrema, uma pessoa com potencial. E não quero que ele seja desperdiçado à toa.

- Agradeço os elogios – ela dava um pequeno gole no vinho em sua mão – Mas seja direto. Do que se trata?

- Quero arcar com as despesas de sua mãe.

- O que? – ela parecia confusa – A troco de que?

- A troco de nada. Catharina, não quero seu potencial sendo desperdiçado com homens iguais ao doutor Alberto. Por isso decidi que vou arcar com os custos de sua mãe.

- Olha, eu agradeço a gentileza – ela levantava-se da poltrona – Mas vou recusar. Não preciso de sua ajuda, não quero caridades.

- Catharina, não é questão de caridade...

- Você mal me conhece! – ela disse rispidamente – Não é possível isso. Me diga, o que realmente você quer em troca?

- Nada! – ele respondia calmamente – Eu realmente quero lhe ajudar!

- Bom, então sinto muito, mas não aceitarei esmolas. – ela foi se retirando da sala em direção à porta de entrada.

- Espere, talvez você possa me dar algo em troca!

Ela parou de repente e virou-se lentamente em direção à ele:

- Antes que você me diga alguma coisa, quero lhe dizer que mereço ser tratada com respeito, acima de tudo. – ela disse firmemente – Não é porque preciso de dinheiro que aceito ser tratada como qualquer uma.

- Não se preocupe – ele fez um gesto convidando-a a sentar-se novamente na poltrona – Não vou lhe exigir muita coisa.

- Bom, – ela parecia interessada na proposta – explique-me mais.

- Quero que seja minha modelo.

- Modelo? Do que?

Ele deu um longo gole em seu whisky e voltou a respondê-la.

- Como você mesma viu, sou fascinado por esculturas e pinturas. Todas elas foram feitas por mim.

- UAU! – ela parecia muito impressionada e fascinada – Você é realmente muito bom no que faz!

- Obrigado! – ele parecia contente – Bom, não quero te pedir muito, mas também não quero parecer que estou te dando uma esmola. Entrarei em contato com você nos dias em que precisar. A minha única exigência – ele dizia firmemente – é que você pare com os programas. Quero sua exclusividade, não me importa o quanto você precise, arcarei com o tratamento de sua mãe e com o seu, inclusive com o seu bem estar.

- Parece que quer me controlar – ela respondeu, séria.

- Sinto muito se lhe passei uma impressão errada. Não estou aqui para te controlar, pode ter sua vida normalmente, não vou exigir muito de seu tempo. A única exigência é que você pare de fazer o que está fazendo agora, para o seu próprio bem.

- Pensarei a respeito – ela respondeu.

- Assim espero. É minha proposta final, não quero ser muito insistente. Espero que me ligue assim que se decidir. Aguardarei sua resposta – ele a encaminhava até a porta, ajudando-a a colocar seu casaco vermelho – Devo chamar um táxi?

- Sim.

Ele a colocou em um táxi e despediu-se. Retornou para sua sala e sentou-se ao bar. Colocou em seu copo outra dose de whisky e admirou uma de suas pinturas. Se Catharina aceitasse, seria sua melhor modelo.

Duas doses de whisky depois, sua campainha tocou. Ele estranhou, pois não esperava ninguém a essa hora.

- Catharina?

- Aceito sua proposta.

*****

Ela saiu do banheiro trajando um hobby vermelho, de seda. Ele a esperava no ateliê em frente à um quadro branco. O cheiro de tinta predominava no local. Lá havia muitos quadros, todos eles parecendo ter uma modelo diferente retratada.

- Coloque isso – ele entregou à ela um par de luvas pretas e longas.

Ela colocou as luvas delicadamente e retirou o roupão. Ele admirou por alguns segundos a bela mulher em sua frente. Conduziu-a até uma cadeira preta e macia, forrada com lençóis de seda pretos. A parede era coberta com o mesmo lençol, dando ao local um ar artístico e ousado.

Ela sentou-se ao banco e ele entregou-lhe um outro lençol de seda preto.

- Esse você deverá usar para cobrir tudo de seu quadril para baixo.

Ele depositou o lençol sobre as coxas dela e pediu para que deixasse ambos os braços caídos ao lado do corpo. A iluminação e o local favoreciam para que de longe, ela se parecesse como uma Venus de Milo. Era poético e artístico. De longe, apenas sua cabeça, seus longos cabelos, seus seios e barriga e uma parte de cima dos seus braços poderia ser vista, contrastando perfeitamente com o fundo preto do ambiente. Ele começou a pintá-la.

Algumas horas depois, sua obra prima estava pronta. Ele afastou-se para admirá-la de longe e seus olhos encheram-se de lágrimas ao apreciar tanta beleza e perfeição.

- Pode ver – ele disse à ela.

Ela levantou-se da cadeira, segurando o lençol preto envolto em seu quadril, dando a impressão perfeita da Venus de Milo caminhando em direção à Ulisses. Ele sentiu seu corpo estremecer com a cena, mas rapidamente desviou o olhar e esperou que ela observasse seu retrato.

- Ficou... – ela demorou alguns segundos para responder – Perfeito!

Ela levou sua mão delicadamente em direção à pintura, ainda trajando as luvas pretas, quando Ulisses rapidamente segurou-a pelas mãos.

- Cuidado! – ele olhou-a nos olhos – Ainda não secou.

- Eu não ia tocá-la – ela respondeu, ainda fitando-o nos olhos – Mas posso dizer que fui tocada por ela.

Ela virou-se para Ulisses, que ainda estava sentado ao banco, de forma em que seu rosto estivesse à altura de seus fartos seios. Deixou que o lençol preto caísse ao chão e permaneceu imóvel na frente do doutor.

- Toda obra de arte deve ser apreciada e tocada da melhor forma possível – ela continuava parada em frente à ele – Você é muito bom pintando, mas será que consegue se sair tão bem tocando?

Ele sentia-se constrangido e envergonhado:

- Obras de arte não são feitas para serem tocadas, apenas apreciadas.

Ele levantou-se rapidamente e cobriu-a com o hobby vermelho.

- Entrarei em contato novamente quando precisar de seus serviços! – ele dizia sem encará-la diretamente nos olhos – Vou-lhe chamar um táxi!

Catharina embarcou no táxi e ele fechou a porta da sala. Foi até o ateliê e migrou cuidadosamente a pintura até seu quarto. Pendurou-a em frente a sua cama e deitou-se aliviado, admirando a perfeição de sua obra de arte.

*********

- Como a senhora está se sentindo hoje? – Ulisses perguntava à senhora Josephina, que parecia ter melhorado muito o seu humor desde a primeira consulta.

- Muito bem, obrigada.

- Sua filha me pediu para que fizesse a gentileza de avisá-la que hoje, passará a noite aqui no hospital. Ela não deve tardar a chegar. Não se preocupe, estarei de plantão hoje, se precisar de qualquer coisa, basta me chamar.

Ele terminava de checar a paciente quando Catharina entrou na sala.

- Como se sente, mamãe? – ela beijou a testa da senhora.

- Muito bem!

- Doutor – ela estendeu a mão para cumprimentá-lo, dando um meio sorriso para ele. Ele retribuiu-lhe o aperto de mãos, sentindo como se tudo ao seu redor derretesse quando a olhava nos olhos.

- Vou deixá-las a sós – ele retirou-se da sala.

Durante seu plantão, teve alguns minutos de sossego, que aproveitou para passar pela cafeteria e recuperar suas energias.

- Dois cafés, por favor. – ele pediu, pensando em levar o outro para Catharina.

Ele pegou os cafés e voltou para o corredor das salas de internação. Enquanto subia as escadas, uma claridade o incomodou na sala 14.

- “Esses estagiários vivem esquecendo as luzes acesas!” – ele pensou.

Foi rapidamente na intenção de apagar a luz da sala, mas para sua surpresa, avistou Catharina sentada em uma das macas, os cabelos ruivos selvagemente bagunçados e com um dos seios a mostra. O outro estava tampado pelas mãos de um dos médicos de plantão que o apertava fortemente, enquanto metia-lhe a língua por entre as pernas de Catharina, pouco visível, já que ela usava uma saia de tecido fino, onde por baixo da mesma, encontrava-se a cabeça do doutor.

Ela não havia notado a presença de Ulisses, pois seus olhos estavam fechados e seu rosto contorcendo-se em uma expressão de intenso prazer.

- Oh, sim, doutor! – ela gemia, enroscando seus dedos entre os cabelos do médico, contraindo-o para mais fundo dentro dela.

Ele tirou a cabeça debaixo da saia de Catharina, e Ulisses escondeu-se atrás da porta. Ainda curioso, continuou observando a cena. O médico com ela, muito atraente por sinal, agora virava-lhe de costas para a parede. Segurando com força os cabelos de Catharina, puxou-lhe bruscamente para si enquanto encaixava seu membro duro por entre as pernas dela. Ele apoiou uma das pernas no degrau da maca, e lentamente começou a penetrar a bela moça contra a parede.

Catharina visivelmente sentia muito prazer e pedia para que ele penetrasse-a mais fundo. Ele fazia assim como lhe era requisitado, enfiando-lhe seu membro duro com movimentos sensuais.

- Não pare! – ela implorava – Oh, não pare, vou gozar assim!

Ele continuava a penetrá-la cada vez mais forte, até que ouviu-a estremecer profundamente. Nessa hora, ela sentia suas pernas tremerem pelo orgasmo profundo que acabara de ter. Rapidamente ele retirou-se do corredor e caminhou em direção à seu consultório. Jogou fora os cafés que comprara e sentou-se em sua cadeira, profundamente abalado e estranhamente excitado. Alguns minutos depois, escutou alguém bater à porta.

- Pode entrar, está aberta!

Catharina aparecia em seu consultório com dois copos de café em suas mãos, trajando a mesma saia que ele a vira poucos minutos antes, mas dessa vez, seus seios não estavam à mostra.

- Não consegui dormir, imaginei que você também precisasse de um café.

Ele agradeceu e pegou o café de suas mãos. Não sabia muito bem como se comportar diante dela, nem o que lhe dizer. Talvez não devesse dizer nada.

- Catharina, temo dizer-lhe que não precisarei mais dos teus serviços – ele dizia isso sem conseguir encará-la – Isso quer dizer que não poderei mais arcar com os custos de sua mãe.

- Oh... – ela não parecia surpresa – Lhe incomodou saber que tive relações com o doutor Fernando? Sim, eu o vi – ela acrescentou quando ele olhou-a surpresa.

- Achei que tínhamos um acordo – ele respondeu.

- E nós temos. Tecnicamente não foi quebrado. Não me vendi pra ele.

Ele não sabia o que responder. Ficou em silêncio por alguns minutos. Ela estava certa, não havia quebrado nenhum acordo, mas então, por que é que ele sentia-se tão incomodado ao vê-la nos braços de outro? Ele pensou por um momento e finalmente respondeu:

- Você é uma obra de arte que não merece ser tocada por qualquer um.

- Doutor – ela respondeu calmamente – Eu posso lhe ajudar em suas pinturas, representar para você a Venus de Milo. Mas não se esqueça: eu não sou uma deusa. Sou uma criatura normal como todas as outras pessoas, e mereço ser tocada da melhor forma possível. Não abrirei mão disso.

Ela retirou-se de seu consultório sem olhar para trás.

[Continua]

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