Super-Herói brigão, ciumento e fingido

Batman e Robin foram convidados para uma festa de casamento, de uma parenta da super-heroína Mulher-Maravilha. No sábado à noite chegaram à casa da noiva lotada de celebridades e a dupla logo entrou na fila para cumprimentar e beijar a recém-casada. Inesperadamente ocorre uma falha na corrente elétrica da casa e tudo fica às escuras. Nesse momento ouve-se uma voz feminina a exclamar: – Solte-me, seu tarado! Lanternas acesas permitiram apenas perceber alguém a evadir-se com rapidez. Logo retornou a luz e muitos convidados tentavam entender o que acontecera: Mulher-Maravilha entre soluços queixava-se do assédio sexual de um homem que não conseguira identificar. Nada mais seria preciso para deixar Hulk transtornado, motivo de sobra para derrubar duas paredes a socos à procura do Capitão América, este apontado como suspeito autor da ousadia de aproveitar-se da escuridão para beijar Mulher-Maravilha, provocando em seu ciumento marido, o mastodonte verde, uma reação de raiva incontrolável. Hulk enlouquecido e com sua força descomunal, quem poderia detê-lo? Capitão América, assustado, tratou de esconder-se enquanto Hulk vociferava: – Onde se meteu esse sacripanta covarde? Lothar tentou impedi-lo de fazer mais estragos, mas não pôde segurá-lo. Hulk livrou-se com facilidade do abraço do gigante de ébano amigo de Mandrake que por sua vez não conseguiu hipnotizar e acalmar o truculento mondrongo. Felizmente todos ficaram aliviados quando finalmente Super-Homem entrou em ação e imobilizou o grandalhão verde com uma chave de braço. Depois de muitos esclarecimentos o brigão ciumento aquietou-se. Houve um mal-entendido, assim dito por muitos, Capitão América era inocente. O autor do beijo fora o Fantasma, que bem ao seu feitio dali havia sumido. Escafedeu-se às pressas, mas na verdade, atrás de sua noiva Diana, que abandonou a festa depois de ouvir quem era o verdadeiro culpado daquela desordem.

Ao encontrá-la Fantasma cairia a seus pés para pedir-lhe perdão, entretanto ao chegar diante da fiel companheira, Diana mostrou-se magoada e indiferente, injuriada com a traição, a imaginar todos os fãs e leitores de suas histórias a comentar a infidelidade do noivo.

Fantasma pediu mil desculpas e tentou justificar sua ignóbil atitude: – Foi um engano meu, no escuro abracei Mulher-Maravilha a imaginar que beijava a noiva, isto é, Diana, sua noiva ou a recém-casada, não enunciou bem a explicação, dizia-se com pensamentos embaralhados e suplicava: – Perdoe-me Diana, por favor, entenda que ultimamente ando estressado. Tudo por conta da declaração de meu ancestral, o primeiro Fantasma que com uma caveira nas mãos jurou combater a pirataria, isto há mais de quatrocentos anos. Uma jura feita no tempo em que não se fazia a menor ideia da grandeza desse compromisso e agora eu, seu descendente, sinto-me frustrado, fraco diante do gigantesco crescimento da população de piratas no mundo. Da pirataria globalizada e desenfreada, corriqueira em qualquer parte. Hoje há muita incerteza entre o verdadeiro e o pirata. Em toda parte encontra-se, por exemplo, tênis pirata, perfume pirata, cedê pirata, uma infindável lista de produtos pirata, o que me faz suspeitar de minha própria vestimenta e de das demais, de outros Super-Heróis. Talvez entre os próprios desenhos em quadrinhos de hoje alguns sejam piratas. Além disso, prolifera atualmente nas redes sociais a noticia pirata, as ditas fake news.

Com isso concordou Diana, o primeiro Fantasma não previu sua promessa transformada em uma luta inglória, desigual contra uma praga fora de controle, loucura demais para somente um Super-Herói.

Por fim Diana o perdoou, ainda que desconfiada do tal “estresse” do noivo. Seria só conversa fiada, cascata, porque era ele Fantasma reincidente, useiro e vezeiro em assédio sexual, mais um velhaco no mundo dos enxeridos. Contudo usou o bom senso, afinal em dias de hoje é voz corrente entre as mulheres que há no mundo grande falta de homens de verdade e livres. Raros então aqueles com requisitos extras, ninguém vê super-heróis dando sopa para coitadinhas em qualquer canto.

Ainda na festa o equívoco fora esclarecido por Nick Holmes, o grande detetive, que com sua potente lupa descobrira gravado no braço de Mulher-Maravilha o sinal da caveira do anel do Fantasma, prova irrefutável de seu crime.

Eu não conhecia essas personalidades aqui presentes nesta festa de casamento, disse Robin a Batman. Sim, respondeu o guru, pertencem à velha-guarda, foram criadas para o mundo dos quadrinhos. Nunca aconteceu de um assediar a mulher de outro? Perguntou Robin. Bem, na verdade nunca ouvi falar de um caso assim, principalmente porque, acho eu, os escritores, roteiristas e editores sempre desfazem as possibilidades de qualquer um pular a cerca ou do surgimento de triângulos amorosos. Um fato dessa natureza causaria grande prejuízo ao conceito dos Super-Heróis. Somente neste conto que estamos vivendo, neste casamento aconteceu essa confusão entre nós, porque neste imaginário Hulk é casado com Mulher-Maravilha.

Daquele casamento ficou apenas uma marca num velho calendário. Anos mais tarde, a dupla desfeita reencontrou-se em suas identidades de simples mortais, o Homem-Morcego e o Menino-Prodígio em uma avenida na cidade de Belém. Tomamos uma cerveja? Convidou Batman, obviamente mais velho, um pouco mais gordo e usando óculos de grau. Claro, respondeu Robin, que já não era mais nenhum rapaz novo. No bar, no primeiro brinde, a sorrir em cumplicidade veio a lembrança de outros tempos em que a dupla gastava gasolina à toa rodando pela cidade no batmóvel. Como estão as coisas? Foi a pergunta concomitante de ambos. Então Robin falou que ao tentar prender a primeira e única criminosa que encontrou, acabou preso a ela na mesma algema e nesse encontro perderam a chave.

Batman, de tanto rir, quase caiu da cadeira. Robin, o Menino-Prodígio fora precocemente vencido. Fazia anos que Batman divorciara-se da Mulher-Gato e casara-se novamente, mas desta vez vivia com outra mulher, ambos distantes da fama.

Mulher-Maravilha separou-se de Hulk por infidelidade conjugal, o marido transformara-se num perdulário e maníaco caçador de jovens ainda verdes, afinal era o seu fraco. Fingido, duas caras, verdadeiramente, vá se fiar num aparente mosca-morta, observou Batman.

E Alfredo? O fiel mordomo aposentou-se, mas para Batman e Robin, era ele agora um mito, apenas uma personagem coadjuvante, uma evasiva lembrança. Nunca a dupla poderia provar que realmente ele existira. Nem ele nem os outros.