Provavelmente nunca vai acontecer...

Foi assim que ele terminou a sua fala: Provavelmente nunca vai acontecer. Do outro lado da linha estava sentada na beira da cama, ouvindo aquelas palavras tão duras; era de se imaginar que terminaria da pior maneira possível. Acontece que quando se tem esperança lutamos até se esvair todas as forças. Foi o que aconteceu comigo. Enquanto o ouvia, um turbilhão de pensamentos passava pela minha cabeça. Como pode me enganar tanto!? Não queria acreditar que aquilo estava acontecendo, era meu aniversário e aquela tarde se tornou um pesadelo.

As lágrimas corriam pela minha face, as minhas mãos tremiam segurando aquele telefone. Não. Dizia para mim mesma, isso só pode ser uma brincadeira, contudo a razão alfinetava as minhas emoções, como se quisesse me trazer para realidade que todo aquele sentimento jamais seria recíproco e como todas as outras vezes, não seria diferente.

Em meio as suas falas sempre tentava amenizar o sofrimento pelo qual estava causando; entre palavras de natureza branda, ressaltava as minhas tantas qualidade - doce, atraente, talvez mais atraente do que doce, apesar de toda admiração por mim a única coisa que o movia era a curiosidade de como seria estar comigo. “Curiosidade” nunca passei de uma simples curiosidade; como uma droga que queremos experimentar, porém temos medo das consequências. E pensei em quanto ele falava. Será medo? O meu coração não queria admitir que pudesse existir alguém capaz de não sentir nada; mesmo tendo vivido momentos felizes. Infelizmente a manipulação é uma maneira bastante utilizada para enganar ou despertar sentimentos tão puro, igual o que estava sentindo. Eu já estava totalmente envolvida por aquele rapaz que só via em mim curiosidade. Nenhum afeto.

Todos os meus argumentos foram em vãos. Nada mudaria aqueles pensamentos tão frios.

Quando desliguei o telefone, paralisada com tudo aquilo que estava acontecendo, a única coisa que os meus pensamentos conseguiam processar era: “Por mais qualidades que você possua, não é boa o suficiente para mim”; “você não é capaz de despertar um sentimento maior que não seja apenas curiosidade”. Como um mantra, ali estagnada por horas ouvindo o resumo daquela conversa.

E quando dei por mim percebi o quanto fui idiota e uma sensação de vergonha invadiu o meu peito, por que planejei, reformulei, criei ilusões que só aconteceria em minha mente, então tudo o que foi pensado provavelmente nunca aconteceria.

Aquela música que foi ensaiada, que seria tocada no final da tarde para ele; aquela dança que com certeza o deixaria louco de desejo; os versos tão fáceis de serem escritos, as séries que assistiríamos juntos, aquele sorriso bobo sem motivo, o abraço, o beijo, nossos corpos nus se entregando no chão da sala; dormir abraçado sentindo o calor dos nossos corpos; aquelas piadas sem graça que sorriríamos de qualquer maneira; aquele cuidado quando não estivesse bem, aquele almoço de domingo preparado com todo carinho. E todo esse filme passava em minha cabeça e o via chegando ao fim. Provavelmente isso tudo nunca aconteceria.

E assim que sair do transe percebi que não era um pesadelo, e sim a mais triste e cruel realidade de alguém que não passava de uma simples curiosidade. Esse alguém era, Eu.