Um Alguém

Esse alguém "venia de lejos, pero venia" - disse-lhe sem cerimônia José Cárdenas. E veio, não de longe, de perto, numa chuvosa manhã de fevereiro.

Oferecer-lhe-ia, como havia-se determinado não sabe-se, contudo, aonde, seu bondoso coração para que esse Alguém pudesse leva-lo consigo.

Esse Alguém "qué estaba cercano" - lhe diria tempos mais tarde José Cárdenas - chegou doce e mansinho. Soube fingir que não cravar-lhe-ia em seu peito um punhal, levando consigo o seu coração.

Mas quando a sentença se lhe havia escapado à memória, a poesia emanava por seus poros e encontrava-se indefeso, esse Alguém atacou. Cravou-lhe o punhal no peito e levou consigo o seu coração.

"Lo dije" - exclamou José Cárdenas.

Vez ou outra esse Alguém aparecia novamente e levava consigo as partículas de coração que ainda restara em seu peito. Até que nada mais havia pra ser levado.

Num belo dia, quando nem mais vestígios de coração havia, esse Alguém ofereceu o seu para que pudesse reparar-lhe o dano. No entanto, embora o tenha experimentado, recusou de pronto, pois já havia aprendido a viver sem um.