CONFIDÊNCIAS ERÓTICAS DA GEÓGRAFA PARA O MATEMÁTICO RÚSTICO

Ouvi de uma amiga, Quero esse cara pra irmão, quero ser mais que amiga dele, quero estar junto em toda parte e ser dele a melhor anfitriã. Eu respondi que isso devia ser amor mas ela nem ouviu, Só quero calar minha boca apressada para ouvir o doce sermão que ele faz solene quando fica nervoso, toda vez que ele me olha de perto fecho os olhos para estremecer o íntimo com sua voz de trovão, eu quero tremer naquelas mãos ásperas, entende? quero sentir o terremoto, me afogar no tsunami, quero rir da cara de bravo dele quando nada modesto diz que é homem simples mas erudito, rústico e sistemático, quero rir gostoso de como ele treme quando sente prazer, pentear aquela juba com as mãos só pra saber despentear depois enquanto ele lava as mãos. Minha amiga geógrafa confidencia e eu publico sem autorização.

Eu repito que isso deve ser amor, Acontece que ele é tão exato, pesando bem talvez seja isso o que me excita, basta desfazer um dos laços apertados dos seus círculos que vejo desfeito seu mundo desabando no meu colo, eu quero meter o bedelho no cangote perfumado dele, alongar meu dorso sobre o indomado e com as unhas arranhar um mapa nas costas dele, cravar os dentes, inocular o veneno que me intoxica no pescoço macio do dele.

Sem pudor porque já viveu o suficiente para dizer o que pensa, minha amiga grita seu desejo e diz que se soubesse faria do que sente poesia erótica, eu argumento com certa elegância mas sei respeitar o fato de que ela não sentia o corpo vivo há muito tempo, Quero ele no cio, sua alma, quero gemer na lama, cama é para as recatadas e eu quero e vou ter mais porque pouco não basta nesta idade. Sobre fazer poesia eu digo que o desespero dela não daria bom ritmo e pergunto atiçando lenha na fogueira alheia que também me queima o nome dele ao que ela responde, Que importa o nome ou com que letra se escreve, se houver erro melhor será o tempo que leva a correção, eu quero os quatro cascos dele na minha irregular geografia - e desaba nos meus braços quase chorando.

Quando ela ler o que eu escrevi vai me chamar num aplicativo de mensagem e fingindo zangada vai dizer que me ama, que era exatamente assim que ter escrito. Eu sei que minha amiga geógrafa não me ama, que é da boca pra fora que zanga comigo. Ela quer mesmo é se deitar com esse homem sem nome.

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Baltazar Gonçalves

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 27/10/2018
Reeditado em 06/11/2019
Código do texto: T6487467
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