Aquele Amor [parte I]

Nunca me senti com coragem de reencontrá-la, assim, frente a frente. Não queria vê-la de perto sem que ao menos, primeiro, calculasse milimetricamente minhas falas e gestuais; o peso daquele sentimento que um dia esteve abrigado em mim. Tiraria a prova. Tremi e meu corpo ficou gélido, nervoso. Contei-a de minhas frustrações, revoltas e mágoas; questionamentos, antes, sequer esclarecidos. E cada memória revista no apertar do peito se encarregava de convidar uma lágrima para o protagonismo. Meus olhos rasos d’agua enxugados, de quando em quando, por um entendimento de presente e passado, tempo e circunstância no trato de suas astúcias.

Era atmosférica a sensação introvertida ao se expressar. Boa parte foi silêncio, olhar trocado, como quem quisesse adivinhar o pensamento de ambas as bocas estarem serradas. E sobretudo, distância de segurança. Levando em consideração estarmos em lados opostos nas extremidades de um banquinho de praça. Revelou-me, ao passar das horas, o incômodo de ser impedida de me beijar por aquele mesmo ambiente. Assim, deixei-a em casa. É bem verdade que espreitava o mesmo. Senti seu rosto aproximar uma, duas vezes até o meu para, enfim, tocar seus lábios com minha boca trêmula. Um, dois, três, quarto segundos. Depois, riso alinhado, acuado. Meu e dela. Era minha vez, puxei-a macia pela roupa querendo assim estabilizar minha ansiedade. Beijei-a... Mais duas vezes... Decidindo, agora, ir mesmo embora.