Ela não apareceu

Foi um mês de conversa através das redes sociais, até que veio a ideia da primeiro encontro. Ele nunca a tinha encontrado pessoalmente e antes que isso pudesse acontecer ele, inseguro como sempre, queria ter certeza de que ela não era um desses personagens fakes que se espalham feito poeira ao vento.

Olhou as fotos. Ela era loira, olhos verdes, pele levemente bronzeada, cabela de um loiro caramelado, lábios largos, dentes brancos, corpo bem desenhado, pernas torneadas. Ele custava inclusive acreditar que aquela mulher queria encontrar com ele.

“Isso deve ser alguma armação”, ele pensava, com sua incredulidade ativa, enquanto ela descarregava através do teclado palavras adocicadas de quem de fato queria conhece-lo. Voltou a olhar o perfil dela. É verdade, não existiam muitas fotos, mas as poucas quelá foram postadas, datavam de uma certa distância de tempo uma da outra, o que mostrava que aquela conta estava ativa a um determinado tempo. Alguns poucos comentários, mas bastante íntimos dava a toada de que aquele não era um perfil falso.

Procurou fotos dela junto com amigos. Encontrou duas ou três em meio a grupos, mas não eram fotos exatas e nem permitiam visualiza-lá com exatidão. “Isso é estranho”, pensou ele, até lembrar-se que ao bem da verdade em seu perfil também não haviam muitas fotos. “Ela pode simplesmente não gostar muito de foto”.

Assaltou-lhe a mente de quem não tinha muito a perder. Claro que todo o ser humano, por menor e menos que tenha, sempre tem algo a perder, mas, como dizia uma frase que ele leu uma vez: “Tenha fé, pois, se ela lhe ajudar você tem tudo a ganhar, se ela não te ajudar, você não tem nada a perder.” Foi o que ele pensou. Preciso ter fé.

Marcaram o encontro para às nove e meia da noite em uma área movimentada da cidade. Sentou em um banco e aguardou a chegada dela. Apesar de já terem se visto por fotos, combinaram que ambos usariam branco para se reconhecerem em meio as pessoas que usavam aquele espaço para caminhar e exercer o seu direito de convívio social.

A cada pessoa que passava seu coração batia mais forte. Quando surgia alguém vestindo branco então, nem se fala, ele logo ficava imaginando: “Será ela?” “Não, não poder ser, ela é loira”, “Ela pode ter pintado o cabelo”, “É ela, não, não é ela.”

O relógio marcou nove e meia pouco depois que ele chegou no local. Uma hora depois o relógio já marcava dez e meia e ele ainda estava na expectativa. “Ela se atrasou. Ela vai aparecer, ele pensou.”

Às onze horas da noite sua bunda já estava dolorida de ficar sentado naquele banco duro a espera dela, mas ela não veio. Ele ainda esperou mais uns quinze minutos e depois iludido pela esperança de que ela simplesmente não o tinha encontrado, ele caminhou por entre as pessoas para tentar encontrá-la. Foi em vão.

Quando se deu conta era uma hora manhã e ele estava sentado na mesa de um desses botecos que não são frequentados por pessoas distintas. Haviam dois senhores sentado e uma mesa tomando pinga. Eles falavam animadamente de futebol e estavam numa discussão acirrada para ver quem foi melhor zagueiro se Airton Pavilhão ou Herminío. Ele até pensou em entrar na discussão e dizer que Herminío só jogava bem porque tinha Figueroa do seu lado e Carpegiani na primeira linha do meio-campo, tendo o Caçapava voando numa lateral, mas preferiu não se meter e seguiu tomando a cerveja que estava estranhamente gostosa.

Eram três horas da manhã quando chegou em casa e mandou uma mensagem para a loira. Escreveu alguma coisa do tipo: Fiquei te esperando, não precisava fazer isso comigo... Já com alto teor alcoólico no sangue não conseguiu ser mais eloquente que isso e decidiu então que enviaria uma mensagem somente na manhã seguinte.

Levantou já eram dez horas. Sua cabeça doía, seu corpo estava soado e só então percebeu que dormiu com o ar desligado. Foi até o banheiro, onde com muito sacrifício conseguiu tomar um banho e então pegou o celular para mandar a mensagem que queria.

Abriu o perfil dela no facebook e o que viu derrubou seu chão. As mensagens de luto pipocavam de toda a parte. Eram mensagens de amigos e familiares. Correu nos comentários e leu quando alguém escreveu: Infelizmente ela sofreu um acidente de trânsito, se deslocando para o centro, e, não resistiu os ferimentos.

Jonas Martins
Enviado por Jonas Martins em 30/01/2019
Código do texto: T6563212
Classificação de conteúdo: seguro