Onde encontrar a felicidade?

Nos últimos eu andava cabisbaixo, amarrotado, assim meio sem eira nem beira, lombo calejado pelo peso das experiências vividas nada enriquecedoras, e de tantas bordoadas e rasteiras da vida. Da vida e dos agentes que a compõem. Nos meus sei lá quantos anos de vida, 2 terços devem ter sido vividos pela vontade de alguém, cuidando de interesses que nem sempre eram meus. Eu vivia matando um leão por dia e isso estava acabando comigo.

Com o passar do tempo fui cansando. Estava me anulando e não gostava nem um pouco disso. Um belo dia, me deu um estalo: eu preciso ser feliz. Preciso cuidar de mim, fazer coisas ou planos verdadeiramente meus. Preciso ser eu. Mas com essa bagagem que trago comigo isso será meio difícil. Quase impossível. Tenho que fazer algo, redesenhar minha vida do começo . Tenho de aprender a buscar a felicidade onde ela estiver. Mas aí residia um problema crucial: onde buscar a felicidade? Nunca procurei antes, nunca me preocupei com isso. Não aprendi a busca-la, não sei nem por onde começar.

Saí pela vida, decidido a encontrar a felicidade, estava determinado. Primeiro busquei nos meus amigos. São bons, são meus camaradas, mas... Não era bem isso. Busquei nos meus filhos. Sim, a felicidade estava ao lado deles... A felicidade estava ao lado deles..... Estava? Não, ainda não. Saí pela vida. Cheguei uma praça bem cuidada, bastante florida. Era uma manhã de domingo. Pessoas exercitando, crianças brincando sob os olhares atentos dos pais... Cãezinhos de estimação correndo desvairadamente de um lado para outro. Hummm Combinação perfeita para a felicidade. Mas inexplicavelmente também não estava lá, meu coração ainda estava angustiado. Poderia estar por perto a felicidade de todo mundo, menos a minha.

Eu tinha problemas demais para resolver, a carga estava pesada, eu me relutava em resistir, pensava em desistir de tudo, sei lá... Sumir. Mas cheguei à conclusão que se sumisse, meus problemas que me impediam de perceber a felicidade iriam juntos. Eram abacaxis que eu teria de descascar.

O tempo passou, minha angustia aumentava. Minha ansiedade idem. Cadê a tal felicidade? Ela realmente existe, ou é miragem para uns, insanidade para outros, ilusão para outros tantos? Não sei. De qualquer forma, eu que havia decidido ser feliz, encontrar a felicidade a qualquer custo, começava a perceber os sinais de desânimo, de rendição. Essa coisa de felicidade é invenção dos poetas e atores de filmes românticos. O resto é realidade ignorada. Mas ainda não desistira. Ainda não, sou meio birrento, insistente. Há quem diga perseverante. Pra mim, tanto faz.

Mas eu segui a minha jornada de buscas sem sucesso, dessa já desanimada felicidade. Fui na igreja. Lá sim, era o ideal para encontrar a felicidade. Lá estavam pessoas conhecidas, palavras de conforto e esperança. Acredito que Deus estava lá também. Sim, era um lugar que irradiava felicidade. Bingo, encontrei! Agora sou feliz.

Mas... Ao sair do templo santo, todos os meus problemas e angustias estavam do lado de fora me esperado. Tinha o peso das contas, dos despertadores, do trabalhado, das relações desgastadas... Passei na farmácia, comprei de uma gentil atendente, um calmante, anti não sei o que, que segundo me foi informado, resolveria todos os meus problemas. Cheguei em casa, na euforia de ser feliz imediatamente, tão logo o medicamento fizesse efeito. Abri a caixa.

Resolvi ler a bula. Meu Deus, quanta contraindicação, quanta precaução, quantos efeitos colaterais. Então tomei meu copo de água, desmontei cada capsula no lavatório e abri a torneira. Eu não queria me suicidar aos pouco. E minha busca pela felicidade voltou para estaca zero. Eu não me cabia, estava sem fome, sabia que não iria dormir bem. Ou dormiria demais, sei lá...

Saí pela rua. Fui lanchar na padaria perto de casa, mesmo sem vontade. Lá, em uma mesa perto de mim, havia um casal e uma menina que eu julguei ser filha. Era uma criança de uns 10, 12 anos, eu imagino. E trazia traços de ser especial. Talvez autismo, eu me atrevi a supor. Na sua inquietude e ingenuidade, ela me olhou assim de relance e disse: espelho. Eu não entendi nada, os pais a interceptaram, com um sonoro e preocupado “filha, não atrapalha o moço”. Eu me limitei a sorrir-lhes e dizer que estava tudo bem, que não se preocupassem. Mas... “espelho”. O que ela queria dizer? Não parei de pensar naquela moleca por horas. Quando em casa, angustia me consumia. Quem era eu? Qual a minha missão? Eu começava a duvidar de possíveis respostas duradouras.

Resolvi tomar um banho, talvez sentisse um pouco de conforto. Após o banho, sentei na cama e com a toalha comecei a secar os pés. Eu estava sentado diante de um espelho grande, me via inteiro. Lembrei da criança da padaria. Espelho... Espelho... Eu estava diante de um espelho. Me atrevi a me olhar. Estava velho. Não me reconheci. Eu estava com a pele suja, enrugada. “Será que não tomei banho direito?” Passei a toalha branca ainda úmida no rosto e olhei novamente. Estava limpa. Como pode? Olhei novamente. E olhei de novo. Comecei a costar do que via.

Eu tinha esquecido, mas eu me amava muito. E a cada vez que eu me olhava melhor, com mais atenção, parecia que minha pele estava mais limpa. Era como remover camadas de ressentimentos, perdas, desconfianças. Comecei a me ver bonito a cada camada removida. Isso. Eu me via bonito. Sorri para mim mesmo. E comecei a chorar. Chorei muito. Acho que chorei uma por uma vida inteira de buscas mal sucedidas. Lavei a alma, melhor que o banho que acabara de tomar, lavando meu externo.

E descobri a felicidade. Ela estava dentro de mim o tempo todo. Sempre esteve! E eu buscando fora, nas pessoas, nos amigos, em tudo. Menos em mim. Quanta ingenuidade! Quanta falta de confiança em mim. Quanta falta de amor por mim mesmo! Sentia vergonha de mim, de minha postura. Mas eu estava me amando, como a muito tempo não sentia isso. E chorei novamente.

Hoje posso dizer que sim, sou feliz, afirmo com convicção. Os amigos são os mesmos, a família a mesma, A igreja é a mesma, Deus é o mesmo. Os problemas idem. Mas a minha visão, a minha percepção a minha confiança, o meu amor é que mudou. Descobri pessoas incríveis preocupadas comigo, com amor e dedicação verdadeira. Hoje eu sei que não posso mudar a minha história, mas eu posso mudar os próximos capítulos. Eu estou pronto para enfrentar os desafios e comemorar as vitórias. Pronto para aceitar o imutável e remover o que me impede seguir adiante. E especialmente pronto para viver o amor. Percebo o amor de Deus em mim. E percebo que existem pessoas maravilhosas ao meu redor. Espero contar com cada uma delas na minha estrada, uma mais especial ainda.

Estou aprendendo, mas posso afirmar: Hoje eu sou verdadeiramente feliz!

Faria Costa
Enviado por Faria Costa em 25/03/2019
Reeditado em 31/03/2019
Código do texto: T6607208
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