A ROSA VERMELHA
Eles nasceram no mesmo ano, no mesmo mês com diferença de uma semana apenas de um para o outro, eram vizinhos e cresceram praticamente juntos. Brincavam no mesmo parquinho e criaram uma relação de amizade incrível. Cristiano e Rebecka não se desgrudavam até completarem 10 anos quando o pai de Cristiano foi transferido pela empresa que trabalhava para outro Estado.
O choro incontido de Rebecka foram rios de lágrimas, Cristiano por sua vez não se controlava em deixar a sua única e grande amiga para trás, mas enfim a necessidade dos pais os separou para sempre.
Para sempre?
Os dois fizeram juras de amor eterno um pelo outro ao serem separados.
 
*

Cristiano vinha de mãos dadas com sua namorada quando repentinamente passou aquela mulher com traços tão familiares, era linda, sensual e tinha um sorriso que mais parecia uma deusa, ele ainda foi tentado a olhar para trás, mas por respeito a sua namorada que também era linda e uma pessoa sensacional resolveu continuar de olhar firma para frente.
Aquela visão o acompanhou o resto do dia, era uma visão suave e ao mesmo tempo perturbadora, amava a sua namorada, porém sentiu algo que nunca havia sentido por ninguém com a aparição rápida daquela garota, na verdade havia sentido isso quando ainda era criança ao reparar o sorriso de Rebecka, sua vizinha e melhor amiga e já faziam quinze anos que não a via.
Não, não, repetia ele, preciso esquecer essa besteira! E assim foi para a cama a noite dormir o sono da beleza.
 
*
 
Era um jardim tão florido com milhares de flores, um colorido tão instigante que fazia doer os olhos de tanta beleza. Cristiano andava de um lado para o outro, havia um silêncio sepulcral recortado apenas pelo cantar de alguns passarinhos e o vento que batia na copa das árvores ao redor daquele enorme jardim. Ele então por algumas vezes gritava; tem alguém aqui? Mas nenhuma voz havia naquele lugar.
Para seu espanto apareceu uma linda mulher em um belíssimo vestido azul contrastando com o colorido das flores. Não conseguia ver seu rosto, pois sobre ele descia um véu branco quanto as nuvens em um céu sem chuva. Abraçou-o com força e o chamou de amor, em seus lábios trazia uma rosa de um vermelho tão forte que parecia querer cegar Cristiano.
Quando os lábios doces de deusa encantada tocou seus lábios o despertador tocou e Cristiano acordou ainda com o gosto daquela boca em sua boca numa espécie de mágica.
 
*
 
Em seu banho, Cristiano pensava no sonho e naquela mulher tão linda. O que queria dizer aquele bendito sonho?
Preparou-se e foi para o trabalho!
 
*
 
Como trabalhava próximo de casa Cristiano fazia o trajeto a pé, não pegava condução nem ia em seu carro, eram apenas cinco minutinhos andando.
 
*
 
Na segunda esquina de sua casa ele novamente se depara com aquela mulher tão misteriosa que fez seu coração disparar e o corpo tremer. Não, não podia ser ela! Seria Rebecka?
Só podia estar ficando louco, mesmo com aqueles traços de quando era apenas uma menina aquela mulher não poderia ser Rebecka.
Os dois se olharam e deram bom dia um para o outro de forma cortês.
Os olhos arregalaram, aquela voz...era ela. Era ele.
- Rebec...?
- Cristia...?
Os dois falaram ao mesmo tempo.
O mundo congelou por alguns segundos e as lágrimas desataram a cair seguido de um abraço tão forte quanto um laço para amarrar uma fera brava.
Os dois então sentaram debaixo de uma árvore e começaram a conversar sobre o passado até chegar no assunto atual.
- Mas o que te trouxe para cá, Rebecka? Perguntou Luciano.
Vim acompanhando o meu noivo que vai trabalhar na empresa que fica logo a frente.
A resposta de Rebecka foi como um tiro no coração de Cristiano, mas tentou disfarçar com um sorriso.
- Que legal, então vamos ser colegas de trabalho!
Cristiano percebeu naquela conversa uma breve perturbação no olhar de Rebecka e lembrou da promessa feita ao sair de sua cidade natal que sempre iria amar a doce menina e estava sentindo agora a mesma sensação daquele amor tão inocente e angelical. Mas tudo era impossível agora, nada mais podia fazer.
 
*
 
Os dias se passaram e Luciano ficava mais perturbado com a data do casamento de Rebecka se aproximando. Ele sabia está sendo covarde, primeiro por não assumir aquele amor por Rebecka e segundo por não falar a sua namorada toda aquela história maluca de sua vida.
 
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Rebecka mesmo contrariada o convidou para seu casamento, Cristiano então aceitou.
 
*
 
A cerimônia estava prestes a começar, Rebecka tremia naquele vestido azul esperando o seu salvador, pensando naquele amor de infância e agora tão perto de sua pessoa. Fechou os olhos e “via” Cristiano entrando na igreja montado em um cavalo branco dizendo “eu”, quando o padre perguntasse se ali entre os presentes existia alguém que pudesse impedir aquele casamento. Ela estava vendo aquilo acontecer como nos contos de fadas.
Com um véu branco no rosto e uma rosa vermelha na boca ela surgiu como naquele sonho de Cristiano no jardim florido. Ele apareceria ali, ela tinha certeza, a promessa de nunca se separar seria enfim cumprida.
 
*
 
Os olhos se abriram e a música começou a tocar, a cerimônia continuou e Cristiano não compareceu para salvar a sua amada. Talvez o senso crítico que desenvolveu durante a sua vida o impediu de ir até lá, talvez tenha sido covardia.
 
*
 
Nunca mais se ouviu falar daquele jovem naquela cidade, um jovem que apresentava uma vida tão promissora naquela empresa desapareceu para sempre, matou em si aquele amor como quem tira a própria vida e simplesmente desapareceu para sempre.
O que aconteceu com ele? Essa era a pergunta que todos os seus conhecidos se faziam e como num passe de mágica Cristiano sumiu, talvez tenha virado estrela no céu e esteja velando a sua amada em noites escuras, mas o seu sumiço foi um mistério jamais descoberto, nem mesmo por sua namorada que tanto o amava.
JOEL MARINHO