Joca e a Cartomante

Joca amava Laurinha. Era arriado os quatro pneus pela morena sertaneja do Pajeú. Ela viera estudar em Arcoverde no colégio das freiras e morava na casa de uma tia, uma mulher muito severa, braba que nem um siri, religiosa radical e que não aceitava os modismos da juventude. or modismo leia-se namoricos, flertes e festas. Laurinha era de casa para o colégio e dele para casa. Nem cinema ia, fora do esquema só a missa dos domingos acompanhada pela irascível tia. Joca olhava todo dia a morena passar, mesmo toda composta com a farda do colégio, era muito bonita e mesmo sem querer quando passava na rua era, como diziam alguns, um pecado ambulante. Além disso o seu riso fascinava e mesmo sem falar com nenhum dos rapazes seus olhos, parecendo duas jabuticabas brilhantes, diziam tudo. O danado é que ela sempre fitava Joca, fitava e ria, e ele tremia nas bases. Sabia qe a morena não lhe era indiferente não falava com ele, mas seus olhos diziam tudo. Só que a tia religiosa impedia qualquer aproximação, vigiava, alertava, metia medo falando no tal ecado da luxúria. Que a moça que se metia com esses transviados da rua ia direta pro inferno. Laurinha só ouvia, mas isso entrava por um ouvido e saía pelo outro, mas não podia levar a vida de uma moça normal. Apenas uma vez fortuitamente, quando ela passou por Joca, este lhe disse: - Te amo, morena! Ela riu e disse com sua voz aveludada bem baixinho: - Eu também, mas qualquer relacionamento nosso é impossível.

Joca ficou satisfeito, mas a mesmo tempo triste porque nunca poderia se acercar dela, namorá-la de verdade. A tia sempre impediria. Ela dizia abertamente que esses namoricos eram safadezas (usava esse termo para designar os namoros dos jovens. E arrematava junto às outras religiosas fanáticas: - Duvido que minha sobrinha e afilhada se meta com um desses transviados (todo rapas era chamado por ela de transviado)". E completava: - Se começar a pelo menos olhar para um deles lhe dou uma pisa e mando de volta para as brenhas d Pajeú.

Mas havia um porém. E Joca sabia desse porém. A religiosa, apesar de passar mais tempo na igreja do que em casa, gostava também de frequentar a casa de uma cartomante, que muita gente dizia ser catimbozeira. Era Sinhá Totonha. Ela ia de vez em quando a casa dessa cartomante mandar ea botar as cartas, com um baralho todo se desmanchando. A religiosa acreditava piamente na leitura das cartas feita pela cartomante. Joca que era um sujeito safo, bolou logo um plano. Era amigo de um neto de Sinhá Totonha, Tião, jogavam juntos no time dos estudantes, eram os dois melhores jogadores e unha e carne um com o outro. Joca expôs a ele o plano. Tião era muito querido pela avó. Prometeu seguir á risa o plano.

Alguns dias depois, a tia de Laurinha foi à casa de Sinhá Totonha pedir para ela boar as cartas. Sentou na frente da velha que pegou o baralho, depois que a religiosa cortou, ela saiu virando as cartas e dizendo: - Está escrito nas cartas que você gosta muito de sua sobrinha. E ela de você, isso é bom poque você nao teve filhos e seu marido tem aquele vício do jogo e da bebida, então a você resta como companhia apenas essa neta.Ai virou outra carta e fez cara de espanto, como se tivesse visto algo diferente. A religiosa notou e ficou aflita, perguntou: - Sinhá Totonha é coisa ruim? A velha virou outra carata, mais outra e respondeu: - Vai depender de você, está escrito nas cartas que pode suceder algo muito ruim se você impedir um namoro de sua neta. Há - e mostrou uma carta, um valete de espada todo amassado, um rapaz muito direito e sério que ama sua neta e ela a ele, mas não namoram porque você impede. Isso pode ser um perigo. Já ouviu falar na história de Romeu e Julieta? É o que está nas cartas. É melhor você consentir no namoro se quer evitar um drama, uma coisa que você vai se arrepender e um pecado tremendo. Consinta no namoro dos dois. Namoro sério.

A religiosa disparou para casa, tinha que tomar uma providência urgente, antes que pudesse suceder o pior. Foi logo gritando por Laurinha, essa ficou até assustada, a religiosa lhe disse: - Estou sabendo que você está querendo namorar com um rapaz direito, se é namoro sério vou dar consentimento. Agora, sem chumbrego e nem agarramento, e no alpendre daqui de casa. Vou vigiar. Laurinha ficou radiante e no outro dia quando passou na rua e viu Joca, pediu para dar dois dedinhos de prosa com ele e rindo muito contou da decisão da tia. Joca se fez de surpreso, e desse dia em dante começou a namorar com Laurinha. No começo só o ritual respeitoso. Mas passados alguns dias, segundo as betas colegas da tia de Laurinha, diziam cochichando, que o alpendre da casa da religiosa estava impróprio para menores de dezoito anos, Estava escrito nas cartas de Sinhá Totonha. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 07/05/2019
Código do texto: T6641092
Classificação de conteúdo: seguro