Guadaína e Janalupe

Guadaína e Janalupe

Eram duas irmãs que nasceram no sertão de Goiás e que migraram com um carro de boi para o sertão de Minas Gerais. Foram viver numa cidade seca, miúda, esquecida no tempo e no espaço e quase sem vida no Vale do Jequitinhonha e que nem vale a pena dizer o nome. Vale do Jequitinhonha onde rios voadores não chegam para chorar suas lágrimas na terra. Então a terra fica seca sem verde nem azul e o homem faminto por oportunidade vai embora para a cidade grande.

O primo era o rio que unia o afluente ambicioso com o afluente de luta. Era médico e paulistano que morava numa fazenda próxima a cidade miúda, criava gado e cavalo, gostava de andar de cavalo e pescar na beira do rio Jequitinhonha e ajudava os filhos da terra dando uma parte dos peixes que pescava e do gado que matava.

Guadaína era médica vaidosa e ambiciosa que não gostava da cidade miúda quase sem vida e que sonhava em viver em Brasília. Era um rio de vaidade e ambição. Um rio de meandros dissimulados, egocêntricos, irresponsáveis, inconsequentes e desmedidos que enganava o primo.

Janalupe era professora que gostava da cidade miúda, que ensinava em vão filhos de boias frias com pés descalços. Filhos de trabalhadores rurais que não tinham o que comer em casa. A escola era fonte de alimento. Se não fossem a escola não comiam. Comiam na escola, mas não aprendiam a ler nem a escrever. Era um rio de luta. Um afluente que lutava para melhorar a vida do povo sofrido da cidade miúda e que era esquecida pelo primo embriagado pelo amor da mulher ambiciosa.

Eram duas irmãs que amavam o mesmo primo. O primo casou com Guadaína, mas deveria ter casado com Janalupe que o amava mais. Guadaína e o primo tiveram um filho. O filho não gostava da fazenda e queria morar com a mãe na cidade grande. Janalupe teve uma filha. Separou do pai da filha um ano depois que ela nasceu. Guadaína conhece um amante em Januária e foge com ele para Brasília. O filho vai junto. O primo então se desespera e se mata no seu quarto da fazenda com um tiro no peito. A fazenda é abandonada e leiloada tempos depois. Janalupe sente a morte do primo e falece de câncer um ano depois. O filho de Guadaína e a filha de Janalupe vão para Brasília morar com seus avós. Somos um rio que devemos escolher um afluente. Se você escolher o afluente da vaidade e da ambição será contaminado e cairá de podre. Se você escolher o afluente da luta, da dignidade e da humildade vai sofrer durante a caminhada, mas estará em paz com a sua consciência.

Bruno Valverde
Enviado por Bruno Valverde em 10/05/2019
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