AS DUAS ROSAS AMARELAS

Essa é um conto de amor incomum, se você caro leitor está acostumado com contos de fadas então irá se surpreender. É a história de duas rosas que nasceram em um lindo jardim.

O canteiro era dividido em duas partes: um roseiral com lindas rosas vermelhas e uma linda plantação de girassóis. E, em um canto do terreno ficava solitário o velho sábio Cacto.

Nesse lugar magnifico, com belezas ímpares e perfumes que exalavam no ar, nasceram numa manhã de primavera dois lindos botões de rosa, mas não eram quaisquer botões; eram amarelos.

Em meio a tantas rosas vermelhas os lindos botões amarelos se destacavam em beleza e formosura, e assim dia a dia foram desabrochando até se tornarem duas lindas rosas amarelas. As duas viviam juntas, eram inseparáveis, isso provocava muito ciúmes em outras rosas.

Especialmente, porque as duas rosas amarelas eram muito felizes juntas .... Até as borboletas e outros insetinhos demonstravam apreço e estima, mas essa sintonia gerou um terrível mal-estar no canteiro. As fofocas das outras rosas vermelhas eram sempre maliciosas: “ah, você viu? Como elas se olham? ” Ou comentários com desprezo e indignação: “ah, como elas podem deixar de realizar o sonho de casar-se com um lindo girassol? E assim continuavam suspirando indignadas.

As vezes as duas rosas amarelas sempre ouviam essas lamurias e mantinham-se sempre unidas, sempre juntas, mesmo diante de tanta hostilidade.

Nesse jardim, como mencionado, era tradição todas as rosas se casarem com os girassóis, e como todo lugar tem sempre um que se destaca, nesse jardim havia um lindo girassol, grande, esplendoroso, galanteador.... As rosas vermelhas viviam suspirando por ele, isso gerava nos outros girassóis inveja e cobiça.

Mas, o grande girassol não estava interessado em nenhuma daquelas rosas vermelhas, seu sonho era casar-se com uma linda rosa amarela. Ele vivia rodeando as duas rosas amarelas que tinham acabado de desabrochar, mas elas não correspondiam aos olhares e recusavam os presentes que o belo girassol lhes oferecia.

Frustrado com a indiferença, o grande girassol foi consultar o velho Cacto sábio. Chegando lá perguntou-lhe: “ meu caro Cacto, vives aqui nesse canteiro a muitos anos, e sabes que é nosso legado os girassóis casarem-se com as rosas, mas essas lindas rosas amarelas me ignoram e me tratam com desdém”.

O velho parou, pensou, julgou, e finalmente falou: “meu caro girassol, estás coberto de razão, faremos nesse jardim um grande plebiscito, iremos analisar e julgar a melhor decisão para o jardim”.

Quando as duas rosas amarelas souberam da decisão do grande sábio ficaram apreensivas e decidiram que iriam advogar em causa própria. Sabendo de tal decisão, o grande girassol também resolveu advogar em sua causa.

Chegou o grande dia. Todo canteiro estava agitado, não se falava em outro assunto. Haviam apostas dos dois lados, as torcidas se dividiam, em meio ao falatório o grande cacto pedia calma: “ senhores girassóis e senhoras rosas, peço a vocês silencio para que comecemos nosso julgamento. ”

Após um tempo, o velho cacto disse: “está aberta a sessão”. O primeiro a ter a palavra foi o grande girassol, que pigarreou, tossiu e enchendo os pulmões bradou em alto tom: “senhores amigos do canteiro, venho em minha própria defesa argumentar que as duas rosas amarelas estão colocando em risco a velha tradição familiar, o sagrado matrimonio entre as rosas e os girassóis”. Os aplausos invadiram o canteiro. Eram palmas e vivas para o grande girassol.

Após os aplausos e gritinhos o grande sábio pediu silencio, e logo uma voz melodiosa e doce começou a falar: “queridas rosas e queridos girassóis, deus nos agraciou com o dom da beleza, nos concedeu o dom da graça e dádiva do perfume. Nos enfeitamos as festas, as casas, somos presentes perfeitos para casais enamorados”.... Dizendo isso fez uma pausa e continuou: “mas de que adianta termos tanta beleza, tanta graça se não podemos nos amar? Como podemos ser alegria se estamos presos, encurralados em uma tradição que nem sempre privilegia o verdadeiro amor? ” O silencio reinava no ar..... Não se ouvia no canteiro nenhum sussurro, nem um suspiro.... Após uns minutos o sábio cacto deu o plebiscito por encerrado. Cada rosa e cada girassol retornou ao seu lugar .... Nenhuma palavra fora dita desde então....

As duas rosas amarelas que juntas desabrocharam numa manhã de primavera juntas murcharam e suas folhas foram levadas pela suave brisa do outono.

CLAUDIACHIARION
Enviado por CLAUDIACHIARION em 08/06/2019
Reeditado em 29/06/2019
Código do texto: T6668318
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