Ao amor que tinha
Via no olhar a certeza de que o amor chegara e que era ele mesmo, aquele que sempre esteve à sua procura e que tantos a avisaram que saberia reconhecê-lo. Foi rápido, sem tantos pretextos. Logo foram apresentados pela via mais fácil, o olhar... Sem que precisassem de qualquer tipo de mediação terceira, era ele, exatamente como descrevia.
Ah, o amor foi logo reconhecido e bem cuidado inicialmente. Tarefa difícil mesmo foi a sua manutenção, pois, por vezes, os incômodos que a rotina trazia eram sufocadas pelo medo de manchar aquilo que era tão sagrado, tão esperado. Os dias se passavam, os medos aumentavam, a solidão ameaçava, a fé reivindicava, as posturas mudavam e os desgastes que eram antes distantes se aproximavam.
Dias, meses e alguns anos foram suficientes para entender que a busca pela vontade de ser amada trouxe o amor pensado, arranjado, imaturo e reconhecível, num ambiente que achava-se pronto, mas despreparado, um coração desejoso e fantasioso fez pensar que já estava tudo certo, ajeitado, e não percebeu por um momento sequer, que o amor é construção, reconhecimento, aceitação sem anulação. Tudo acabou sem entender direito o amor que pensava ter.