A você que sempre soube tudo

Meu amor,

Tenho medo de lhe escrever estas palavras. Elas querem ser arrancadas do meu peito. Assim como você arrancou meu coração. Estou soando dramática? Você me dizia “Quero receber esse olhar para todo o resto dos tempos!” Eu te olhava mais, mais e mais. Você também retribuía?

As lágrimas escorrem. Sem pressa. Lembro como as tardes quando ia ao seu encontro me faziam inteira, você me envolvia, toda, com o abraço mais caloroso misturado a rodopios, nós, meu amor, corpos girando, permanecíamos juntos, consegue perceber?

As lágrimas escorrem. Com pressa. Lembro-me do fazer amor. Você segurava minhas mãos com força ao penetrar minha alma. Eu gemia, gritava, sussurrava. Perdíamo-nos no êxtase.

Com as mãos molhadas tento limpar todo o estrago que você fez, eu, mais uma vítima, aqui, desgarrada, desamarrada, em peças e inteira, sem saber o que fazer, porque elas, meu amor, elas cismam em continuar, quem sou eu para dar o ponto final?

Você me deu o mundo! Como foi possível? Mesmo sem sair do chão eu visitei países, cidades, rios, fazendas, plantações. Você pegava minha mão, e eu, tola, te acompanhava, seguia seus passos.

Não quero tomar seu tempo com palavras inúteis, sem sentido, jogadas ao vento. Ah, meu amor! Como parar? Como anular quaisquer sentimentos? Você sempre tão forte! E eu só preciso de um toque para quebrar. Quer catar meus cacos? Quer ser meus cacos?

O sol começa a invadir o quarto. O café quente já queimou minha língua. Há muito. A caneta agora minha aliada. O mar, lá fora, com suas ondas a quebrar. Gostaria de ser uma delas? Gostaria de quebrarmos juntos?

Dou mais um gole. Amargo. O que posso fazer? Aonde devo buscar alguma doçura? Diga-me meu amor. Sabe o que perdura em meus lábios? Meu cigarro. Minha fumaça. Vou soltar tudo em você, seu rosto, suas roupas, vou lhe queimar com as pontas, te prender e aprisionar, assim como fez com meu coração. Mas não se preocupe meu amor, ele, o seu coração, agora posso vê-lo, ainda batendo em minhas mãos sangrentas.