Ela esperava como uma Penélope o seu Ulisses da Periferia.

Karen virava só tremedeira quando ouvia ele cantando, "só Love, só Love" com a voz rouca de homem gostoso que diz:- meu amor antes da rouquidão da noite sumir. Pensava muito nele, ardiam as suas entranhas nas lembranças daquele moreno safado que a fazia tão feliz. Porém, pouco adiantava pensar e remexer os miolos nas tentativas de juntar e entender as últimas mensagens, era somente uma viagem, ele lhe dissera. Mas,Karen não queria que se tornasse" aquela ida até o mercado da esquina" como o seu pai falara a sua mãe quando era criança. “Olha, Marina, sei que é tarde,já volto, vou comprar cigarros “ e nunca mais voltou ao barraco deles. Ela acompanhou a mãe esvaída, esquálida na sua grande ilusão de achar que o pai voltaria no dia seguinte, na semana seguinte, no mês seguinte. Até que do verão chegou a primavera e quando o inverno veio, a mãe só queimou as roupas do pai para esquentar o Barraco. Karen não queria ficar como a mãe numa nevoa misturada em partes iguais de cachaça e saudades, gastando a juventude na noite com machos mensais semanais ou diários. Queria o seu MC Tigrinho, ele descobriu essa nova profissão cantando nos canteiros de obras e a noite fazia algumas sociais pela comunidade, até que surgir o convites para shows. Agora ela esperava como uma Penélope o seu Ulisses da Periferia. Ele ia voltar, não era como seu pai, não era, não era mesmo!

11/08/19

Marisa Piedras
Enviado por Marisa Piedras em 13/08/2019
Reeditado em 04/12/2021
Código do texto: T6719239
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