Melhor que o silêncio

"Uma mulher sensata tem muito a dizer,

contudo mantém-se em silêncio."

Provérbio Árabe

Samira e as amigas se reúnem para orar, tomar chá e conversar. Túnicas coloridas cobrem o corpo da cabeça aos pés. Apenas o rosto é visível. As mulheres árabes se preocupam com a aparência e estão entre as mais vaidosas do mundo.

Ao lado de macias almofadas, sentam-se sobre os calcanhares, com o peito dos pés no chão. Formam um círculo sobre o tapete persa, com taças e tigelas dispostas para a confraternização. Mas, antes, rezam e imploram em nome de Alá.

Elas se agacham e se levantam, se levantam e se agacham; sussurram e enviam súplicas inaudíveis. Algum tempo depois, cobrem o rosto com as duas mãos e começam a falar em voz alta, encerrando a celebração.

Quase tudo é proibido às mulheres muçulmanas, exceto degustar chás como quem aprecia o bom vinho. Alguns são medicinais, outros deliciosamente agradáveis ao paladar. O líquido precioso é acompanhado de doces, entre ninho de nozes, makrout (doce de tâmara), amêndoas, tortas de damascos. O aroma dos chás impregna o ambiente.

Samira está tensa e não consegue disfarçar, desde que Youssef viajou com os três filhos. Faz uma semana que ele não entra em contato. Alguns meses antes da viagem, o companheiro andava esquisito. O homem extrovertido tornara-se pouco falante.

Ela é a primeira e única esposa de Youssef. Casou-se por vontade da família. Seus sentimentos nunca foram levados em consideração. Há dezoito anos comanda a casa suntuosa, com amplo quintal cercado por muro branco. Seu animal de estimação é um rouxinol, que canta triste.

Samira faz questão de manter as aparências, e diz que o marido está para chegar a qualquer hora, porém ninguém lhe dá atenção. A notícia de que Youssef tem uma nova esposa se espalha de boca em boca entre as amigas. Apenas Samira ainda não sabe.

A sua frente está Aisha. A menina de dezesseis anos é analfabeta, tímida e reservada, mas linda como uma flor. Traz no rosto de pele lisa e clara um olhar sereno e resignado. É a mulher mais velha, que se encarrega de apresentar a jovem ao grupo para receber as boas-vindas como a segunda esposa de Youssef.

Samira é pega de surpresa. Seus olhos claros, emoldurados por rugas suaves, não conseguem segurar a lágrima indiscreta. Embora não seja raro um homem ter duas ou três esposas, ao ser comunicada em público, ela não suporta a humilhação. Levanta-se e deixa a sala em silêncio.

Volta à casa vazia. Olha-se no espelho: vê os fios de cabelos brancos e um rosto cansado de tanto esperar pelo futuro que nunca chega. Pensa no patrimônio que ajudou a acumular. Sente-se como uma mulher de segunda classe que, além de ceder a cama, terá de cuidar da casa e ensinar os hábitos e gostos do marido para que a outra possa agradá-lo. É o seu dever, ditado pela sociedade patriarcal.

Destruída moralmente, ela prefere morrer a aceitar aquele destino. Determinada vai até o closet, veste a túnica verde, com acessórios dourados. Usa um perfume exótico e decide partir, sem despedidas. Liga para o homem, que a corteja em segredo, e o convida para a audaciosa aventura, cuja saída é o aeroporto.

Sobre a mesa de jantar, deixa apenas a frase:

"Quando falarem sobre mim, cuidem para que suas palavras sejam melhores que o silêncio."