Desejos desencontrados

Era sábado, às 9h, sorrateiro surgiu ele, por adentrar ao pensamento dela - tal meu.

Chovia.

E assim como em dias chuvosos e cinzas, por onde os respingos da chuva caem tão mansos sob meu para-brisa,

é tão somente mais um daqueles dias, onde sabes que ela almejaria ouvir junto a tu, um blues e um jazz, ao som de um clarinete sopranino em ré, num composto raro e relicário: uma requinta antiga e incomum, tal como, este romance urbano que os cercam, por melhor dizendo: nos cerca, nos pira.

Contemporâneo, incomum, inconstante, com notas de “rock and roll” e vinhedos do Douro, d'onde ainda não há clave a encaixar-se no pentagrama de tamanha partitura, esta, ainda por se escrever e decifrar, adentro de nossos incontroláveis desejos de corpos um d'outro.

Será que estamo-nos a viver um romance? Quem afinal haverá de aludir-nos?

Talvez, uma balada soul, tão quanto diz os compostos daquela canção, que por um costume temos a apreciar. Ou, um dos versos de Camões, junto a autenticidade de Clarice.

Apesar de frios estes tais dias, meu corpo deseja o teu calor, entre carícias e sussurros, com tuas firmes mãos em minha cintura, enquanto me afagas e alisa meus cabelos.

E ele deseja o calor dos lábios dela, estes, tão meus, num entrelaço de corpos, cujo nenhuma batida de relógio, há de satisfazer o prazer de estarem corpo a corpo.

Sinto-te a falta igualmente recíproca, destes desejos desencontrados por dias e ligações perdidas, onde porquanto, poderíamos encontrarmo-nos numa daquelas vielas da rua da saudade. Sinto-te afogado no ápice de minha boca ao teu corpo, até a última gota de tua seiva, d'onde afogo-me junto a teu sussurro por teu deleite.

Afinal, nunca nos contaram a respeito de nossos desencontros, tampouco de nosso encontro.

Apenas, me contaram que meus mamilos te excitam e que de certa forma, meu ínfimo pertence apenas a tua língua ao acariciá-los, por movimentos circulares , onde posso sentir a aspereza macia de tua língua, salivando-me, do mesmo modo, a suavidade do teu mordiscar.

Contáramo-nos, que o calor de nossos corpos incendeia teu cerne, te leva a vagar por longe e além, ao tempo em que me entrego e me penetras sagazmente.

Ele me tem despida como um favo em gotas de syrah, caminha pelos meus lábios quaisquer, estremecendo meu corpo,

enquanto num contido grito, meus dedos repuxam os lençóis.

Teu corpo habita meu âmago.

Meu corpo habita teu furor.

O tempo apenas parece inexistir, ou talvez, ele esteja compondo nossa clave, por encaixes de fermatas.

Eu o desejo.

Ele me toma.

E juntos tomamos um porre: de vastos orgasmos findados numa foda, apenas muito foda.

E assim prosseguem, por entre o desvendar da clave que melhor encaixará na requinta partitura, a fim do achismo de uma prosa tão íntima e abstrusa.

[...] Tão somente de nós dois.

Marinara Sena

09/01/2020

02:55am

Marinara Sena
Enviado por Marinara Sena em 09/01/2020
Reeditado em 23/05/2021
Código do texto: T6837555
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