Aninha em estilhaços de si pelo universo.

As mudanças sempre foram muitos complicadas para Aninha, mesmo tendo a alma de pseudo cigana com suas pulseiras e argolas douradas, gostava de uma aventura, de uma vida em desapego, mas sempre queria voltar para o seu lar. Já se mudará tantas e inusitadas vezes, mesmo não querendo mudar: foram os casamentos, os filhos, os divórcios, os empregos, os novos ou velhos amores, todos a levavam para lugares novos em que ela não queria estar. Mas o "não" era uma palavra que a sua boca carnuda e vermelha não sabia dizer, não conseguia escolher, a escolha por si era feita, ia sendo levada pelo acaso das não escolhas. Às vezes, nem sabia em que lugar se encontrava quando acordava depois das longas noitadas de amor irrigadas a álcool e a drogas. Na maioria das vezes, não existia um lar, um lugar para onde voltar, a roda do tempo girava mais rápido que ela conseguia lidar. Os filhos cresceram como plantas soltas aos cuidados de outros e a viam como um vento feroz ou leve, entretanto sempre livre vivia sem dar satisfações a ninguém. Fluía, escapava entre as mãos e os abraços que distribuía sem limites ou censura. As mudanças lhe doíam mais que a dor que causava nas pessoas ao redor quando andava sem rumo e sem explicações. Não tinha culpas, só deixava se levar aos poucos, em estilhaços/bocados de si soltos pelo universo.

Marisa Piedras
Enviado por Marisa Piedras em 15/01/2020
Reeditado em 04/12/2021
Código do texto: T6842542
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