Incansável senhor da arrogância

O longo tempo de convivência deixava transparecer as mensagens não verbais. Já nao existia dificuldade em entender as caretas daquele senhor, olhar de nojo e reprovação aos gestos dela, a cada palavra proferida quando estavam sós ou dentre as conhecidos, até que um dia ela se calou. As expressões do rosto dele eram marcadas pela arrogância de uma vida inteira com aquela doce senhora que com seu sorriso tímido disfarçava o desconforto de ter sobre ela o poderio daquele estranho marido, um ser que com ela vivia, há tanto tempo, dividia a vida e multiplicava as suas agonias. Sob tensão constante era comandada, sua voz embargava e assim se acostumou. Trancada numa caixa fechada e olhar inclinado, ainda não sabia nessa vida porque nela servia e nunca tinha se servido, sabia somente que às preces entregara a sua filha e no silêncio da noite a aconselhava, a não se curvar àquela vida, mas logo que pudesse fosse embora e nunca a entregasse a quem quer que seja, da vida fosse dona e senhora.

Maria Jucilene de Moraes
Enviado por Maria Jucilene de Moraes em 22/01/2020
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