Um bilhete do futuro

Mas, Zé, o que você acha, valeu a pena? Estar sentado nessa mesa de madeira, com centenas de papéis, de casos, famílias, pessoas desesperadas, esperando julgamentos, sem ter o seu amor? Zé, pode ser sincero, fala para mim, valeu mesmo a pena? Seu carro 0, um ap bem no centro da cidade mais nobre, rodeado de amigos caros, almas vazias, sem o seu amor? Bom, Zé, talvez meu cabelo não seja o mais bonito, e convenhamos, meu sorriso é meio amarelado, mas tenho um coração tão quente, coberto de chá verde, meu preferido que Maria me serve toda noite. Zé, chora um pouco, toma esse copo de whisky e me conta, valeu, de verdade, a pena? As noites sem dormir estudando, as olheiras roxas que cobre toda semana no esteticista, os sorrisos presos a casos tão grandes, que o dinheiro te impediu de soltar, e sem o seu amor ao lado?

Zé, já viajei a diversos países, conheci tantas culturas que posso te assustar contando as maluquices de cada uma delas, mas o engraçado é que nesse meio de diversidades, existia sempre um ponto que ligava todas. Não importava o deus, a comida, as danças, as roupas. Estavam sempre ligadas, de um canto ao outro, como aquela linha vermelha que os chineses acreditam que todo ser humano tem em seus dedos, sabe? Toda cultura carrega, mas a linha vermelha é ligada a todos os dedos, e elas se unificam. Desculpa, Zé, mas não me parece que valeu a pena, as noites no escritório chorando pela vida cinza, a conta bancária carregada, e os presentes valiosos. E o amor, Zé? Como foi seguir todo esse caminho sem ele? Essa é a linha vermelha das culturas, todas tem suas regras, seus pensamentos, seus jeitos estranhos e divertidos, mas todas amam. Todas levam seu amor. E você, Zé, como anda sem o seu? Mas, Zé, o que você acha, valeu a pena?

Bianca Batista
Enviado por Bianca Batista em 22/01/2020
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