Como pode um amor viver assim?

Ele era quente, seus olhos explodiam fogo de uma alma jovem. Um sonhador, tão novo, voando pelos céus da imaginação. Ela era escura, fria, terrestre. Seus pés, colados ao asfalto, imãs vivos de passos rápidos. Como pode um amor viver assim?. Ela ouvia Los Hermanos, limpando seu par de tênis pretos, enquanto seus olhos negros fitavam a lua, ao som de Pequeno Cidadão. O mundo gritava “FALE A ELA”, mas já não era necessário. Rapaz de xadrez, calça azul clara, boné para trás. Seu sorriso largo, piadas sem hora, ecoavam ao sul ondas de paixão pela moça. Seu jardim era colorido, repleto de vida, um leque apaixonado de um coração. Ela permanecia sentada ao chão da sacada, tocando seu violão, enquanto sentia as luzes das estrelas a banharem, a lavarem, renovando toda a escuridão que carregava em sim. Ele acorda cedo, joga a mochila nas costas, e em frente a casa dela, se ajoelha. O mundo grita “FALE A ELA”, mas já não era necessário. Anoiteceu. Ela apagou as luzes da frente, e ele se foi. Os meses passaram. O mundo grita “VIVA O AMOR”. Ela sai na rua, e não o encontra ajoelhado. Seus tênis permanecem sujos, enquanto caminha pelas esquinas. A luz raia do leste, ela corre em direção, seus olhos negros perdidos. Rapaz de xadrez, calça azul clara, boné para trás. Moça de vestido rosa, meia verde e tênis branco. O mundo grita “VIVA O AMOR”. E ela volta a sua sacada, se banhando das estrelas, anoitecendo dentro de si.

Bianca Batista
Enviado por Bianca Batista em 24/01/2020
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