ERA UMA VEZ... HELENA

Recebi aquela ligação tarde da noite. Eu ainda estava acordada, me enrolando para ir para a cama. Então meu celular tocou. Pensei seriamente em não atender até que vi no visor que era a Fabi, minha melhor amiga. Para ela me ligar naquele horário alguma coisa estranha, no mínimo, grave, tinha acontecido.

— Oi, Fabi. Que susto você ligar agora.

Ela parecia excitada do outro lado da linha.

— Tenho uma bomba para te contar. É melhor que você sente em algum lugar.

Opa. Fiz o que ela sugeriu. Sentei na cama e esperei a novidade.

— Está certo, pode contar agora.

— A Helena morreu.

Foi um soco no meu peito. Helena, aquela desgraçada.

— Morreu? De que jeito? – eu não sabia bem como processar aquela informação.

— Teve um enfarte fulminante.

Dava para perceber que a Fabi estava realmente enlouquecida com aquela notícia. Nós duas odiávamos a Helena.

— Nossa! Mas ela só tem... tinha 35 anos!

— Pra você ver – o tom de voz de Fabi assumiu um tom de triunfo. — Aqui se faz, aqui se paga.

Conversamos mais algumas coisas, eu totalmente em choque. Depois, quando desliguei o telefone, deitei lentamente na cama. Pasma.

Helena. Eu namorava o Rodrigo fazia dois anos e já tínhamos planos de casamento, casa própria e filhos. Tudo parecia se conduzir para uma vida feliz e estável. Então a Helena cruzou nosso caminho. Era amiga de um primo do meu amor e o infeliz apresentou-a para mim e Rodrigo numa churrascada. Na hora eu vi que iria dar problema. Os olhos do Rodrigo brilharam e eu senti o perigo. Durante toda aquela maldita churrascada flagrei os dois flertando. Fiz que não vi. Disse para mim mesma que não iria dar em nada. Era coisa de momento.

Dois meses depois o Rodrigo disse para mim que não me amava mais. Em seis meses estava casado com a Helena vivendo a vida que eu queria. Surtei, mas nunca deixei que ele soubesse o quanto eu estava sofrendo. Em pouco tempo ela engravidou. Ganhou bebê e em menos de dois anos eles tiveram outro filho. Era demais para mim. Sei que devia ter me afastado daqueles dois, mas eu passava o tempo todo me torturando, espionando as suas redes sociais. Pareciam tão felizes. Morria de inveja.

Aí a Helena tem um piripaque e morre. Mas não era ela que levava uma vida de atleta, mostrando seu físico malhado na internet? E aquela vidinha saudável? Pelo visto era tudo mentira. Talvez eles fossem uma mentira mesmo.

Bem, o que eu poderia fazer? Ir no velório e demonstrar meus sentimentos (falsos) para o Rodrigo? Ou dar um tempo e partir para cima dele e tentar uma reaproximação? Ah, eu podia muito bem pegar a família perfeita da Helena pra mim. Adoraria fazer isto. E talvez não fosse tão difícil. Rodrigo vai precisar de muito apoio para criar os filhos pequenos.

Eu sorri sozinha no meu quarto enquanto planos mirabolantes passavam pela minha mente.

Minha vez tinha chegado.

Tchauzinho, Helena.

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 29/01/2020
Reeditado em 29/01/2020
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