Sacrifício

SACRIFÍCIO

Arielson Aposan

Havia uma semana em que andava triste, não sabia como contar a mulher o único segredo que havia entre eles, e agora tentar encontrar uma solução para o futuro de sua família, tornava-se o maior de seus sacrifícios.

Com os ombros caídos e os passos pesados, Pedro de Sousa, um homem de 37 anos descia do mercado central em direção a sua residência, no bairro do trem, em Macapá. Trazia em uma das mãos, uma sacola, que ao julgar pela forma em que Pedro a carregava, estava pesado, e pelo volume, era provavelmente comida. Na mão esquerda, onde a aliança de prata brilhava, conforme passava pelas luzes dos portes, carregava uma rosa solitária, que estava ornada por um plástico e um laço lilás.

Pedro de Sousa, poderia pegar uma locomoção para ir para casa, mas não fazia pelos mesmos motivos que preferia ir a pé para o trabalho – achava que se economizasse nas idas e vindas, poderia no final do mês comprar uma máquina de lavar, que sua amada tanto esperava ter.

O sacrifício que muitos não teriam coragem de fazer, Pedro de Sousa julgava valer a pena. No final do mês, agradava a mulher e, de quebra ficava com o corpo em forma – claro que essa era a menor de suas preocupações, pois para ele, dar a melhor condições a mulher e o filho de 3 anos era o maior dos objetivos. E mais, os quilinhos e a saliência da barriga nunca foram problemas - Pedro de Sousa era um homem simples e, acima de tudo era feliz.

Já se aproximava das 19h quando entrou na sua rua, ao avistar a casa 169, de murro baixo, que um dia fora amarela, sentiu-se revigorado como e nunca tivesse caminhando vários quilômetros até ali.

Ao abrir o portão fora recebido pelo guardião de patas, que latia e saltava alegremente, conforme Pedro avançava em direção a casa. Ao mover a maçaneta, percebeu que a porta estava trançada e, estranhou. Mas, de súbito, porém, imaginou que era melhor assim, “a cidade está ficando perigosa” pensou ele.

Pedro bateu na porta e, não fora atendido por ninguém, então, posicionou a orelha na porta de madeira envernizada e conseguiu ouviu o som da tv. E bateu novamente, desta vez, aplicou mais força e, chamou sua mulher pelo nome: “Lilithe”.

Pedro de Souza, ouviu um barulho estranho, como se algo tivesse caído e se quebrado ao chão. – talvez um prato, um espelho, ou, um copo, não faz diferença; a porta estava fechada e, Pedro não se preocupava somente com isso, mas, agora também, vinha à chuva que pouco á pouco, começava a molha-lo.

Ao bater pela terceira vez, a porta se abrir, e na luz aparecera sua mulher, nervosa. Pedro não era agressivo, no entanto, porém, entrou furioso e com duvidas nos olhos. Lilithe, saltando para o lado, sucumbindo em temor, cedeu passagem. Pedro, avaliou a situação, avançou em direção ao quarto e avistou a janela entreaberta.

- Havia alguém aqui? – Virou-se, perguntando a mulher, que tremular, escorava-se a parede.

Lilithe soluçou. Não respondeu e nem precisava! O guardião, do lado de fora, latia e acusava a traição.

Pedro correu para a porta, mas o amante já lhe escapara, pulando o murro baixo.

A raiva lhe tomou conta. Pedro sentou-se ao sofá. Com as mãos ao rosto, lacrimejando; desiludido, sem mais nenhuma esperança. Seu choro e indignações, acabaram acordando seu filho, que dormia no quarto ao lado. – A mulher traidora? Recém-descoberta? Chorava agarrada ao menino, sem tenta-se explicar e, precisava?

Se já não bastasse o segredo que lhe corroía as entranhas e em demasiado lhe matava, agora também, tinha a traição? Que eventualmente perfurava-lhe a alma. “É pra sempre!” dizia a si mesmo.

Pedro de Souza, levou os olhos ao menino, e sua esposa gritou de temor. Das narinas do marido escorria sangue e Pedro, por um momento, não se importou.

- Tenho uma doença – disse ele, quando a esposa tentou limpa-lo. – Meu coração doe!

Ela, porém, ficou horrorizada, com uma expressão que jamais fizeram antes; uma expressão que descrevia o drama que se encenava no ápice da trama derradeira.

Entrementes, agora não havia mais segredos, não pela parte dele. Contrariamente, a situação não estava resolvida, além do mais, havia uma criança no meio de tudo aquilo. Lá dentro, era Pedro; lá fora era chuva.

Um dia após o acontecido, Pedro se retirou a casa do pai, que ficava para os lados do bairro do laguinho. Carregava um semblante sem vida; não queria comer. Trouxera consigo, apenas os documentos e duas peças de roupa. Pensava que não precisava de muito, afinal, já tinha conhecimento do desfecho de sua vida.

Contudo, Pedro imaginava que jamais o destino poderia lhe pregar essa desgraça, e quem poderia imaginar? Pois, os infortúnios de dias atrás já lhe eram suficientemente, dolorosos. E estava esganado!

Passaram-se duas semanas e, Pedro já estava normalmente habituado a sua rotina, ao menos, parte dela. Naquela ocasião, havia chego cedo à empresa, logo tratou de terminar de montar um guarda-roupa que havia deixado do dia anterior e, foi surpreendido pelo amigo da família, que chegara alvoraçado e nervoso, cujo, os olhinho se exprimiam de tensão.

De imediato, Pedro pensou em seu menino. Mas, logo fora informado que a infelicidade vinha da parte de sua ex-mulher. “será que ela tirou-lhe a vida?” pensou o outro. E não se demorou em acompanhar o mensageiro.

Ao chegar, no hospital de emergência da cidade, Pedro foi recebido pelo cardiologista responsável por atender Lilithe. A ex-mulher não tinha nenhum parente na cidade grande e, Pedro era tudo o que ela tinha. – o único miserável que podia lhe acudir naquele momento.

A notícia que o medico dera, foi a terrível supresa que não imaginava nem mesmo ao pior inimigo. Tampouco, a mulher com quem fora casado á 15 anos. Foi como se seu mundo tivesse implodido, ou como se algo do tipo, bem grande, lhe tivesse atacado bem ao meio do peito. Nem por um momento acreditava.

– Preciso falar com ela – Pediu o desesperado o marido.

O médico mesmo contrariado, atendeu o pedido. Lilithe estava lúcida, com os seus pequenos olhos, aberta. Mas, não podia falar e, respirava com ajuda de aparelho.

– Temos pouco tempo! – disse ele, segurando a mão fria de Lilithe. – Você, sempre foi uma boa mãe. Disso, o nosso menino nunca poderá reclamar.

Uma lágrima correu dos olhos dela. Ele também marejava e foi tocado pelo médico alertando-o para controlar-se a frente dela.

Levantou-se e beijou a mulher. – Nunca deixei de te amar, nem por um minuto.

Até mesmo o médico não conseguiu esconder a emoção e nem fizera esforço para isso. Pedro retirou-se e seguiu para a sala ao lado, desacompanhado.

Minutos depois, um grito horroroso ecoou, seguido de um choro angustiante. Ao correrem para verificar, encontraram um corpo, ensanguentado, com um profundo corte ao pescoço. Ao lado, encontrava-se um bilhete com seguintes dizeres.

“Perdoe-me, por tudo. Cuide do nosso menininho. Meu coração foi unicamente teu!”.

Ari Poeta
Enviado por Ari Poeta em 29/05/2020
Reeditado em 23/04/2021
Código do texto: T6961732
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