O ARTEIRO ELIE - dedicado ao poeta Elie Mathias (miniconto)

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Elie era um sujeito maduro, assanhado que só, adorava rosas vermelhas, mulheres e fogosos embates. Um cara gentil e generoso com os seus amigos e 'amigas' de leito. Tinha um caderninho à moda antiga, um affair para cada dia da semana e um descanso no Domingo, quando jogava bola com os amigos, se arriscava num baralhinho ou apenas dava uma volta pela praia para arejar a mente. Voltava para casa e compunha poeminhas abusadinhos, muito criativos, para agradar cada uma das suas amadas semanais. Cheio de saúde e disposição apesar da idade,  com um sorriso cativante e boa lábia conseguia tudo o que queria.

Só que o destino lhe aprontou uma peça, numa festa na casa de um casal de amigos, no bairro onde morava, conheceu uma loura estonteante de nome Luna Verdana Severo, mas, ela nem deu bola para o olhar faminto dele, foi como se tivessem apresentado a ela um poste, ele ficou frustrado. Durante a festa ela conversou, sorriu junto, dançou com todos, então, pé de valsa como ele era resolveu arriscar e convidá-la para dançar...coitado de Elie...ela virou de costas logo que percebeu a sua aproximação, entabulando um papo com a anfitriã. Ele foi buscar uma bebida e afogou sua decepção, pouco depois se despediu e foi para casa arrastando os pés, imaginando no que havia errado na abordagem. A única coisa que ele não viu, foi o olhar risonho de Luna Verdana Severo acompanhando a sua saída, no fundo ela o achara interessante, mas, já sabia de sua fama por uma amiga, não ia ser tão 'facinha' caso ele estivesse também interessado por ela, como pareceu pelos olhares insinuantes.

O destino estava mesmo desafiando aqueles dois. À tarde já no dia seguinte, encontrou com ele na Padaria Esther, que na compra de bolos e tortas entregava um poema motivador, escrito por alguns poetas do bairro, famosos ou amadores, só um mimo agradecendo o carinho da preferência dos seus clientes, todo mundo apreciava. Trocaram olhares e quando ele sorriu, ela virou o rosto pedindo uma torta pequena para a balconista, pagou e foi embora, Elie 'ficou na pista' mais uma vez, mas, como as linhas dos destinos se cruzam, claro que Luna Verdana Severo, acabou levando para casa um poema de Elie e tomando um chá de hortelã geladinho com uma fatia da torta que comprara, leu com calma e adorou, quando viu o nome do poeta, sorriu na face e intimamente pensando, não é que o moço era sensível e talentoso...

Seis dias depois se encontraram numa peça de teatro, ficaram a três poltronas de distância, se olharam e só. Era Domingo, dia de folga de Elie, a bem da verdade ele não usou seu pavio nenhuma vez depois que  a conheceu, estava com os quatro pneus arriados por ela. Apenas não sabia se por ela desprezá-lo ou por ter se encantado de uma forma tão intensa, que em todos seus sonhos mais ardentes e pensamentos, ela estava presente.

Nunca escrevera tantos versos como naqueles dias. Suas amigas semanais estavam saudosas e uma já imaginava ter sido trocada por outra, só que, como não havia compromisso em suas relações, então, seguiam com suas vidas, Elie só pensava em Luna Verdana Severo, um nome pomposo para uma mulher linda e até agora, inatingível.

Mas, o destino faz seus alinhavos nas bainhas dos espaços, encurtando as expectativas, fazendo com que eles se encontrassem mais uma vez dois dias depois na hora do almoço, no Bar do Brandão, um lugar que era um point de encontro de escritores e poetas, além de pessoas que gostavam de ouvir descompromissadamente boa poesia, tomando um chopp gelado acompanhado dos maravilhosos petiscos mineiros da casa. Elie sozinho, Luna Verdana Severo também sozinha em mesas próximas. Ouviram os versos declamados, aplaudiram e entre um chopp e outro se entreolhavam, para Elie aquele jogo de gato e rato estava ficando excitante. Quando ela retribuiu o sorriso, o céu de fim de tarde virou um dia ensolarado, o peito dele aqueceu e a espinha se arrepiou, nem acreditava que aquilo estava acontecendo.

O bar tinha fama de servir de graça uma rodada de pãezinhos de queijo, seis por mesa e aquilo era muito para Luna Verdana Severo e abrindo a guarda, fez sinal para Elie e perguntou se queria dividir com ela.

Se ele tivesse aceitado mais rápido, teria saltado ao encontro dela rsss...pela primeira vez conversaram tranquila e afetuosamente e descobriram ter muitos gostos em comum, ela disse saber da sua fama, mas, a poesia fez com que ela lhe desse o benefício da dúvida e um voto de crédito, direta e com delicadeza disse não ter se arrependido. Elie perdeu até a fala, deu uma desculpa e foi até o banheiro com o coração aos pulos.

O destino mudou o foco das agulhas para outras costuras, pois ali já estava se encaminhando para um nó bem laçadinho...
Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 10/06/2020
Reeditado em 10/06/2020
Código do texto: T6973739
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