MINHA PRIMEIRA EXPERIÊNCIA AMOROSA -CAPÍTULO II

1. A MINHA PRIMEIRA EXPERIÊNCIA VERDADEIRA

Chapter 2

Série: Romântica

Autor: Moyses Laredo

Daquele dia em diante, a lembrança daquela noite me perseguiu por muitos anos, sempre procurava buscar nas mulheres que conhecia, a mesma fragrância os mesmos trejeitos, a mesma doçura, o mesmo encanto e nunca achava ninguém igual, enfim, nunca consegui igualar, mesmo que fosse em alguns predicados, pensei que isso poderia me tornar uma pessoa muito seletiva doravante, abandonei essa procura, parti para viver cada dia como um novo dia, descobrir o valor de cada uma pessoa que conhecia, segui em frente minha vida. Os afazeres me tomaram muito tempo, profissão, casamento, filhos, divórcio, casamento, filho, novo divórcio, passaram três décadas nesta inana, até que durante uma viagem à trabalho em outro estado, num sábado, após uma exaustiva e infindável maratona de palestras, a última, com um sujeito pedante, que a cada pequena frase emitia no intervalo, um grunhido gutural, como se limpasse a garganta, variando as vogais de, é-é-é-é ao ã-ã-ã-ã tentando engrenar a sequência do pensamento, quase todos os ouvintes estavam em modo avião, dormindo. Após essas tortuosas palestras, resolvi fazer algo para refrescar a cabeça, fui a um grande Shopping Center local, alguns colegas foram beber, eu resolvi ir pra lá, lugar muito chique de pessoas elegantes, lindas e bem vestidas, música suave, bom ambiente para relaxar, ar condicionado no grau certo, procurei a praça de alimentação, e fiz um pedido simples, fiquei acompanhando meu número de ordem da comanda, pela placa luminosa da lanchonete, estava absorto em meus pensamentos quando notei passar por mim, de costas, uma mulher madura de cabelos cortados à Chanel curtinho, calças jeans colorida e uma blusa “segunda pele”, deixando a lingerie da calcinha à mostra, mesma para a sua idade, me chamou a atenção porque simplesmente lhe caia muitíssimo bem, tinha a anca larga e bem contornada, lhe conferia a elegância própria de uma modelo desfilando, só que em direção ao caixa. Abaixei a cabeça e me concentrei nas chamadas por vibração que recebia, uma regalia do meu celular StarTAC da Motorola, último modelo, tinha até uma anteninha que melhorava muito a recepção, atendi a chamada brevemente, ao levantar a vista para conferir a numeração do meu pedido, deparei com aquela mulher retornando, apreciei-a na ida e na vinda, como dizem, chequei seu caminhar e ao passar por mim, me aflorou com uma pluma de perfume de cheiro amadeirado, inebriante, mostrando-me que não era nenhuma jovenzinha, memorizei seu rosto, algo chamou-me atenção, me fez empalidecer. Já aconteceu de você rever uma pessoa, depois de muitos anos e perceber que ela havia envelhecido ou engordado? Pois é, o cérebro busca a última imagem que tem gravado e faz a comparação imediatamente, e assim, você é capaz de perceber, se a pessoa engordou ou envelheceu, é preciso ter uma referência gravada na mente, se não, não consegue aferir. Coisa que certamente não acontece quando você nunca viu a pessoa. Subitamente me dei conta que poderia ser a mesma criatura, eu não tinha mais idade para esse tipo de aventuras, além do mais, acreditava ter havido a mais pura coincidência nisso tudo, mesmo assim, o pensamento me tomou de assalto, será que poderia ser aquela mesma mulher? aquela que encontrei há trinta anos na Pousada em Teresópolis? Nada disso “bacurau”, a mente prega peças nas pessoas, já tinha lido sobre isso. Surgiu meu número no visor do restaurante, meu lanche ficou esperando. Continuei obcecado pela mulher, observei-a melhor para me certificar de que não se trataria de outra pessoa, mas não, era a própria, como eu poderia me enganar? Apesar das três décadas, eu já nos altos dos meus 47 anos, cabelos grisalhos nas têmporas, barba começando a embranquecer, ela creio, beirando os 55 segundo a minha avaliação passada, contudo, como saber se era a mesma pessoa, - Ô dúvida atroz, mais uma vez me vi impelido pelo meu velho espírito de aventura, a ter que ir falar com ela, não poderia perder essa oportunidade e voltar com essa dúvida atroz, embora os vazios dos sentimentos daqueles momentos passados a dois, ficaram colmatados pelo tempo, no entanto, ainda me restou alguma coisa dela, esqueci da comida completamente. Notei que ela se fazia acompanhar de um jovem muito solícito, pegava no balcão seus pedidos e os levava à sua mesa. O rapaz alto e bem afeiçoado. Diante disso preferi abortar o ataque, digo, recuei para observá-la melhor e ver se checava mais algum detalhe característicos seus. Novamente, de tanto fitá-la acabou por me perceber e fez aquele lindo gesto que muito me encantou na juventude, sorriu discretamente e abaixou a cabeça, eureca! fui notado, era ela mesma, a mesma covinha, não poderia ser outra pessoa isso era sua marca registrada, que feliz coincidência, criei coragem, mesmo com o jovem ao seu lado, diga-se que, de muita semelhança com ela, fui ao seu encontro, eu trajava ainda paletó e gravata, tinha saído das tais palestras medonhas, certamente ela jamais iria me reconhecer, tudo dependeria de como fizesse a abordagem, não buscava nenhuma conquista, queria apenas reencontrá-la e dizer-lhe do muito que me fez feliz naquele dia. Ao me aproximar fui recebido com um leve sorriso como se me conhecesse, acho que por pura gentileza, deveria imaginar que não seria nenhum Don Juan barato, haja vista ela estar acompanhada, imaginou mesmo um velho amigo. Cumprimentei os dois e pedi licença para fazer um comentário, no que ela assentiu com um curto gesto de cabeça, comecei a dizer-lhe que achava que a conhecia e que gostaria de confirmar se tratava-se da mesma pessoa, esboçou um sorriso e ficou curiosa, não havia se lembrado de mim, falou-me que tinha dissociação leve de lugar, ou seja, dificuldade de reconhecer as pessoas em locais diferentes, por isso, havia até perdido algumas velhas amigas. Eu não tinha a menor ideia do que era isso! Então comecei a contar-lhe, disse que fora numa de minhas férias há muito tempo em Teresópolis, ao ouvir o nome da cidade, ficou mais atenta e altamente curiosa franziu as sobrancelhas e confirmou ter ido apenas uma vez à Teresópolis em companhia de uma amiga que fora visitar os pais dela, mas, que tinha retornado dois dias depois, - Pois é, disse-lhe, acho que foi ai que nos conhecemos. Você ficou hospedada numa antiga pousada? Ela confirmou com outro balançar de cabeça, e cada vez que eu lembrava alguma coisa ia ficando mais e mais curiosa, o engraçado que não tinha ainda percebido o lance do garoto, acho que não ligara a pessoa ao fato, mas essa conversa a estava deixando muito curiosa. O rapaz ao seu lado vendo que a nossa conversa fluía, pediu licença e comunicou que iria comprar cigarros, ela então falou, vá meu filho. Seu filho? Desse tamanho? Mas como podia...fiz e refiz os cálculos, percebi que o rapaz estava ainda próximo dos trinta anos de idade, ao concluir o raciocínio, me veio um frio na boca do estômago, que me congelou o olhar, acho que ela não notou, fiquei na dúvida se continuava ou não meu assunto, entretanto, foi ela que seguiu a conversa, contando do tal passeio e em seguida, disse que no ano seguinte havia casado e que seu casamento durara apenas cinco anos, infelizmente seu marido falecera, deixando-lhe como semente esse belo rapaz, que no momento fazia-lhe uma visita. Ufa! o meu pensamento desanuviou na hora, por alguns momentos, antes da revelação, achei que poderia ser o pai desse rapaz, quanta presunção! ..., mas o pensamento é próprio de cada um, ainda bem, imagine se o pensamento fosse como palavras que as pessoas pudessem ouvi-los? Quantas confusões não daria? ELE é sábio, trancou os pensamentos numa caixa hermética e que se torna impossível alguém interferir em condições normais. Contudo, ela se mostrou curiosa para saber como havíamos nos conhecido, perguntou se eu era o rapaz do posto de gasolina, ou o do lanche da estrada que trocou o pneu do seu carro, eu logo a interrompi, tocando-lhe o braço suavemente, contei-lhe, que nós havíamos nos conhecido na mesma Pousada e tínhamos tido uma noite maravilhosa em seu apartamento depois do arraial. Ela arregalou os olhos surpresa, e disse ainda estarrecida, meu Deus!...não me diga que você é aquele garoto que conheci na Pousada, que me fitava sem parar? – Sim! Disse-lhe sorrindo, desta vez com muita firmeza segurando agora suas mãos, sou ele mesmo! – completei, lembre-se que já se passaram três décadas e as pessoas mudam muito, mas sou ainda aquele mesmo garoto que você lhe deu o maior presente de sua vida. Desta vez a fiz corar, procurou esconder o sorriso nas mãos como que encabulada, agradeceu por falar longe do seu filho, recordei-lhe que jamais faria isso e que a minha intenção era apenas dizer-lhe do quanto me fez feliz naquela distante noite estrelada, ela logo se recobrou e me perguntou como a reconheci depois de tantos anos? Seus gestou lhe haviam traído, lembre-se que o meu esporte predileto era ficar te olhando, se para você não teve o mesmo efeito, para mim, marcou minha adolescência, descobri realmente o que era conhecer uma pessoa, com quem se tem afinidade, diferente dos amigos que falavam tantas baboseiras, enquanto que, eu vivi momentos inesquecíveis, cada vez mais que falava ela sorria muito, me pegou com as duas mãos pelo rosto e perguntou se podia me dar um selinho? Claro que sim, respondi-lhe, fique à vontade, e sorrindo beijou-me levemente, roçou seus lábios nos meus, não queria deixar marcas de batom, foi muito lindo esse reencontro, ela revelou que passou tempos atormentada com o seu egoísmo, disse que também ficou pensativa depois do nosso encontro, imaginou como deixara minha cabeça, pois para ela, sinceramente, não fez o mesmo efeito como em mim. Isso agora não tem mais importância, o fato é que me fez muito bem esse reencontro. Ficamos por muito tempo a bom conversar sobre tudo, contou-me que o seu avô havia falecido e como sua única neta herdeira, havia lhe deixado uma fortuna em imóveis em Portugal e que se pôs a vende-los, depois, empreendeu sucessivas viagens durante uns oitos anos foi uma perdulária andarilha, chegou a conhecer muitos países, para depois se acomodar e viver de forma pacata. Disse continuar a administrar seus imóveis. Por meu lado, também descrevi minha saga com as ex e com os filhos já crescidos e encaminhados, e que no momento trabalhava numa grande empresa pública sendo o chefe da área de engenharia, portanto, com muitas responsabilidades. Ficou atenta a toda conversa, entrecortava com pergunta inteligentes e inerentes ao assunto, mostrando-se interessada, realmente não sei o que passava em sua cabeça naquele momento, já na minha, quando busquei encontra-la, pensei que o tempo havia mudado tudo, dizem que o tempo é o senhor dos remédios para paixões e paixonites (paixões inflamadas) e que, minha reação ao falar com ela, seria outra, até aquele momento em que resolvi conversar, pensei que não havia mais nada com relação aquele sentimento, por muitas vezes me convenci que era coisa de adolescente e que quando ganhasse mais experiência tudo se acomodaria, como dizia um velho amigo advogado gaúcho, que “as batatas se acomodam com o andar da carroça” não sei se com essas mesmas palavras, porém, o sentido é. Me enganei redondamente, de momento em momento, o meu interesse por ela recrudescia - e agora José? O que fazer, não tinha aventado essa possibilidade, me preparei para uma conversa amigável de dois adultos, mas vi que o clima estava se alterando, com a correspondente reação, acabamos com as mãos dadas por uns instantes, seu sorriso ainda muito cativante, já seu hálito, não era mais de vodca e sim de Coca-Cola diet, outros tempos, findamos nossa conversa com uma troca de telefones, eu tinha tido um cansativo dia de palestras e que precisava descansar para poder viajar no dia seguinte, ela falou que o filho iria retornar hoje mesmo à sua cidade, de formas que, sua noite e a minha estava livre, deduzi com um estalo. Como bom entendedor, às oito em ponto, estava eu na porta do seu prédio, com o taxi aguardando, lembrei-me de repente, que as mulheres costumam demorar a se aprontar, mas ela não, já me aguardava no lobby, linda como antes, desta vez, dentro de um tubinho preto justo que lhe destacavam as ainda graciosas curvas, nos pés, um lindo scarpin baixo da mesma cor emoldurado por uma correntinha de ouro no tornozelo, desci e gentilmente abri a porta, em seguida, fomos a um restaurante que me fora recomendado, de uma arquitetura rústica à beira de um grande lago, pedimos cada um seu drink e curiosamente ela foi de vodca e eu de Campari, rimos dessas escolhas, coincidentemente pedimos as mesmas bebidas de nossas preferências, tudo se assemelhava, o ambiente, a temperatura, a noite estava estrelada com uma imensa lua, era uma Superlua, muito grande e brilhante, que se refletia no espelho do lago, dando-lhe uma dimensão surreal, parecia estar aos nossos pés, vez por outra, tremulava ao sabor de pequenas lufadas de vento. A quietude do ambiente, luz tênue, música orquestrada, tocava jazz clássicos com a rouquidão de Amstrong, iniciando com “What a wonderful world” em seguida “La vie em rose”, “Moon river” daí em diante, muito convidativas a dançar, entendemos juntos, partimos para o pequeno palco reservado aos dançarinos tinha um spotlight sobre nós, experimentamos meios tímidos, os primeiros passos suavemente, temendo não pisar nos seus pés, com a leveza de seu corpo e sua habilidade, deixou-se conduzir docilmente, colamos os rostos senti seu perfume, rocei-o suavemente absorvendo seus cheiros, assim a noite passou lentamente, quem está sob o foco da luz, não vê a plateia, continuamos a dançar mais umas três músicas como se estivéssemos completamente a sós. Quando finalmente nos beijamos, foi quase igual ao beijo dado sentados na grama, no arraial, há trinta anos, porém, mais delicado e comedido devido ao ambiente, sorrimos e comentamos como a vida nos reservara momentos lindos quando merecemos, embora efêmeros, porém repetidos e gratificantes. O nosso jantar foi inesquecível, pareciam dois adolescentes rindo de tudo, jamais imaginara que terminaria o enfadonho curso dessa forma, e pensar o quanto relutei em fazer essa viagem. Naquele momento, tomei a decisão, transferi minha passagem, acabei ficando todo o fim de semana, experimentei mais uma vez a mesma sensação da juventude, agora com mais calma, cada movimento era muito bem estudado, seguindo a sequência natural, cada peça ao seu devido tempo, sem que os nossos lábios se desgrudassem, tal qual se vê em filmes românticos, sem aquele desespero dos novos filmes americanos, que derrubam tudo de cima da mesa com violência, nada disso! Foi tudo muito calmo e suave sem nenhum atropelo. Finalmente a tinha nas mãos depois de trinta anos, do jeito que a natureza a fez, parecia um sonho, cheguei a me beliscar para ter a sensação da existência. Sua pele sedosa e macia era como um veludo a me acariciar, revivemos o passado distante, para mim nada mudou, ao contrário, parecia a continuidade da mesma história.

Molar
Enviado por Molar em 13/06/2020
Reeditado em 13/06/2020
Código do texto: T6976591
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.