O velório da mulher romântica

A cidade toda foi ao velório para vê-la. Uns, que lhe tinham afeto verdadeiro, para lamentar a falta que faria aquele abraço sincero, as risadas altas, o jeito de fazer piada com tudo, lutar pelo que acreditava e o carinho para com quem gostava. Outros foram para certificar-se que, enfim, foi vencida. Vencida pelo amor que tanto defendeu. Desde muito jovem, acreditou que o remédio para todas as dores era o amor. Quando ferida, revidava com novas tentativas de amar e ser amada. E foi inúmeras vezes ferida. E tentou novamente inúmeras vezes ser amada. Na última, desprezando a fragilidade do coração cansado, se jogou de peito aberto, como um salto sem paraquedas em um abismo cheio de neblina. Foi leal de corpo e alma, intensa e apaixonada, como só as mulheres leais conseguem ser. Você já foi amado por uma mulher leal? Dessas que você sabe que não soltam sua mão? Mas ela estendeu a mão e não conseguiu se apoiar. Caiu. O último caco de coração se quebrou e ela era toda coração. Os que tinham ido ao velório para vê-la vencida, voltaram para suas casas como passarinhos acostumados à gaiola. Para eles ela morreu. Para os que a amavam, ela voou. Para o romantismo, foi uma perda do tamanho do céu.

Luciana Vanessa
Enviado por Luciana Vanessa em 20/07/2020
Reeditado em 20/07/2020
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