O DIA D

Finalmente o tão esperado dia estava aí á porta. Ia conhecer pessoalmente o homem que tanto amava. Sonhei com este dia vezes sem conta, embora lá bem no fundo, com um certo ceticismo.

Passou um ano desde que trocámos a nossa primeira palavra - OLÁ.

A comunicação foi-se intensificando á medida que nos iamos conhecendo melhor e parecia que nos conheciamos desde sempre. Se calhar já de outras vidas.

Há uma enorme cumplicidade e sintonia entre nós.Sinto a sua falta como se me tivessem arrancado um pedaço. Quero tê-lo na minha vida. Quero que me ame loucamente, sem tabus nem preconceitos. Quero amá-lo do mesmo jeito. Quero viver com ele todas as loucuras que nos passarem pela imaginação. Quero ser livre na mente e no corpo. Ele também quer. Acho que nos completamos harmoniosamente. É o homem que esperei toda a minha vida. Com ele não preciso de esconder os meus pensamentos ou camuflar a minha sensualidade.

Como ele próprio diz, quer ver-me bonita, sexy, boazona.

“ Quero que te olhem e admirem porque quem te tem sou eu “. Fascina-me a sua mente aberta, livre e franca. Acho uma delícia as dicas que me vai dando. Sinto um prazer enorme, em produzir-me toda para ele. Quero que me ache bonita, que me deseje e me ame com paixão.

Finalmente não preciso mais de me esconder dentro dum saco de serapilheira. Agora posso usar e abusar das luzes e do glamour.

Eu sei que o nosso encontro vai ser especial. Eu sinto isso.

Chegou o dia da chegada. Levantei-me cedo, quase que não dormi. Estava ansiosa e excitada. Tomei um duche e vesti-me. Olhei-me no espelho de alto a baixo. Gostei da imagem refletida. Será que ele vai gostar? Disse eu para mim. Acho que sim, impossível não criar impacto. Collants pretos de rede pescador, skinny jeans pretos rasgados, deixando ver a malha de rede através dos rasgões, top branco decotado, deixando a rendinha preta do soutiã espreitar, blusão preto, imitação de couro e ténis altos de salto cunha. Alguns acessórios vermelhos para terminar o look. O perfume escolhido foi Versace, Yellow Diamond.

Não uso peles naturais, sempre sintéticas. Acho um horror a matança dos animais para lhes arrancarem o couro a fim de confecionarem vestuário e calçado. Da mesma forma não uso perfumes que contenham almíscar na sua composição. Também aqui matam os animais para lhe tirarem a glândula odorífera que têm na barriga.

Fui esperá-lo ao aeroporto. O avião estava bastante atrasado e eu estava cada vez mais nervosa. O pensamento que ele não vinha, passou de raspão na minha mente, mas á medida que o tempo passava, esse presságio ia tomando corpo.

O suor banhava-me o rosto, danificando a maquilhagem. Amiúde dizia pra mim, acalma-te Mariana ele vem, então, tu viste o bilhete. Comecei a pensar que o bilhete podia ser falso. No fundo tinha noção da enorme confusão que ia no meu cérebro. Eu sabia que era a ansiedade que não me deixava raciocinar com clareza.

O meu pensamento parecia um cavalo enlouquecido correndo sem norte. Precisava de lhe puxar as rédeas. Era absolutamente ridículo pensar que ele não vinha. Ele tinha tanta necessidade como eu de saciar a fome que tinhamos um do outro. Acima de tudo, havia muito amor entre nós . Sorrio ao lembrar-me que lhe perguntava imensas vezes, se vinha aqui porque me amava.

Acho pouco provável que se deslocasse para fora do país só para dar uma queca. Era exatamente assim que ele me respondia.

Deitei o olho ao monitor. O voo 5380 Lisboa/Gatwick estava atrasado 45m. Decidida dirigi-me ao toilete e lavei a cara. Refiz a maquilhagem.

Ele queria ver-me bonita e eu queria tanto que ele gostasse de mim. Eu estava convicta que ia gostar dele. Apaixonei-me pelo seu caráter, pela sua sensibilidade e natureza irreverente. É sem dúvida uma pessoa espetacular, diferente da maioria (pensamos sempre isso, é o nosso príncipe encantado). Foi essa diferença um tanto agridoce, que me cativou. Eu deixei-me cativar, como se soubesse que aquele era o meu homem. Sempre que falo com ele, uma torrente de emoções fortes e muito agradáveis, varrem-me de alto a baixo. É como se fosse tomada por um tufão, mas onde me sinto segura e confortável.

Finalmente o avião aterrou. Avistei-o ao longe e senti o coração acelerar. As pernas tremeram e os olhos marejaram. O olhar foi cúmplice do sorriso, que se afivelou escandalosamente na minha boca. Corri ao seu encontro. Estreitou-me contra o peito. Olhou-me profundamente nos olhos e disse: Estás linda boazona. Beijou-me longamente e senti-me desfalecer de felicidade.

Este é o homem que desenhei nos meus sonhos e esperei toda a minha vida. Todos os dias acrescentava mais um traço, até que o desenho ficou perfeito.

Secretamente eu sabia que o ia encontrar. Eu sabia que um dia ele viria, porque eu sou a sua mulher e ele é o meu homem.

Quando se faz uma panela, faz-se o testo para ela !

Maria Dulce Leitao Reis

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14/11/17

Maria Dulce Leitão Reis
Enviado por Maria Dulce Leitão Reis em 24/08/2020
Código do texto: T7044713
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