No Meio do Caminho

No Meio do Caminho, 10 de Abril de 1912, 9h44

Querida Moira,

Se estiver lendo isso provavelmente já estou há quilômetros de Verona. Cartas são mesmo mágicas, não é? Pois perpassam todas as dimensões temporais. Lembro-me como se fosse ontem quando lhe escrevi pela primeira vez e aqui estou eu cumprindo a nossa promessa de que se algo acontecesse, nunca deixaria de escrever por um dia se quer...

Desde já peço desculpas pelas minhas palavras desalinhadas, mas digamos que as cabines da terceira classe e das máquinas deste trem não diferem tanto. Está quente por conta do vapor e as rodas parecem estar fora dos trilhos.

Sei que provavelmente ficará chateada ou até mesmo irritada por ter partido sem me despedir e não tiro a sua razão, mas saiba que esta foi à decisão mais difícil que tomei na vida, pois bastaria apenas um beijo seu para que eu desistisse de tudo. E eu não poderia arriscar, espero que me compreenda.

Também não posso pedir para que fique feliz por estar indo atrás do meu sonho de me tornar jornalista já que nem eu mesma me sinto completamente realizada, pois você não está aqui comigo. É difícil saber o que acontecerá daqui em diante e estou tentando não criar expectativas sobre a América, pois a previsão é que tudo isso dê muito errado, mas se der certo então serei surpreendida.

A distância nunca foi um problema para nós e desta vez não será diferente, apenas peço para que seja um pouco mais paciente até que eu consiga me estabilizar.

Estou a caminho do porto de Sounthampton e dentro de poucas horas estarei embarcando no maior navio do mundo, isso não é incrível? Dizem ser tão luxuoso que certamente minha cabine não será tão desagradável como esta.

É como estar vivendo a segunda maior loucura da minha, pois sim, a primeira foi quando me declarei para você; A sensação é exatamente a mesma e é por isso que sinto ter tomado a decisão certa. Mal posso esperar pelo dia em que a terei em meus braços de novo. Este é o verdadeiro motivo que me faz persistir todos os dias.

Você, Moira Bertucci, foi a melhor coisa que me aconteceu, nunca imaginei que pudesse me sentir como se nunca tivesse visto o céu antes. De repente o mundo parece um lugar tão perfeito, de repente minha vida não parece um desperdício e tudo gira em torno de você. Nuvens de tempestade podem se formar e estrelas podem colidir e eu gostaria que pudesse ouvir meu coração agora dizendo que as estações podem mudar de inverno a primavera, mas haja o que houver, eu amarei você até o dia da minha morte.

Em breve estaremos juntas novamente, eu prometo.

Com amor,

Maggie

*Quatro dias depois, na manhã do dia 15 de Abril, a manchete do New York Times anuncia o naufrágio do R.M.S Titanic e a perda de mais de 1.200 vidas.

Giulianna Loffredo
Enviado por Giulianna Loffredo em 08/09/2020
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