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Encontrei uma forma de entender os teus silêncios sem sequer te ver e voar numa janela do tempo em que eras feita de uma espécie de porcelana, artefacto que quebrava ao mais pequeno desejo ou tentação não concretizado. Então fugi de todos os adeus possíveis, de agonizar o encanto que nos possuía a carne. Esperei pelo ocaso da vida para saber o que dirias, mas deixei de ouvir o canto imaginário das sereias e desentendi-me com o coração, no preciso momento em que juntavas os teus lábios aos meus ouvidos. Acordei num estertor de ideias que me chamavam para um outro sonho, enquanto dormias serena, mesmo ali ao lado, imune a todos os venenos que nos vendiam como salvação eterna da alma. O cérebro amanheceu num novo plano em que a cada esquina de cada rua igual, sobressaía a tua lânguida voz que me fazia sempre avançar para a dura realidade. O corpo ganhou novo fôlego e juntou-se a esta eterna vontade de amor repentino, longe das realidades alternativas que sempre me afligiram.

Nem mais um dia passaria, e eu tento sempre estar equilibradamente sóbrio para desfrutar de tantos anos em que esperei que dissesses o segredo que te consumia o tempo. Tempo que sendo sempre incerto se alongaria o suficiente para entender o teu real propósito. E tu vieste ter comigo sem eu te procurar, disseste os segredos que eu já sabia desde sempre, esse foi o dia de todas as revelações. Valeu a pena esperar e o coração ainda não se cansou de bater.
Manuel Marques
Enviado por Manuel Marques em 21/09/2021
Código do texto: T7347531
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