Era Só Uma Brincadeira

Algumas escolhas em nossas vidas são desastrosas. Mas será que se apaixonar por alguém é uma escolha? Ou será uma fatalidade? Ou destino? Não sei. Só sei que eu embarquei numa tremenda barca furada.

Eu trabalhava naquela empresa há muito tempo. Aquela colega chegou para trabalhar ali e eu dei as boas vindas, mas não dei muita importância. Trabalhávamos em setores diferentes e tínhamos pouco contato. Ela era uma linda mulher e quando sorria parecia que o mundo todo se iluminava. No entanto eu não me importava com ela. Todos comentavam o quanto ela era inteiramente linda e todos ficavam babando quando ela passava.

Eu tinha um casamento estável e feliz, todos comentavam o carinho e o zelo entre nós. Realmente eu amava muito a minha esposa.

Passado um tempo a empresa me mandou fazer um trabalho em uma filial. Era bem longe da cidade onde eu morava e trabalhava. Eu teria que ficar lá por seis meses. Eu vinha pra minha cidade a cada três semanas. E então era uma festa. Eu chegava morrendo de saudades de minha esposa e meus filhos.

Até que um dia meus irmãos me chamaram para uma conversa séria. Eles me disseram que minha mulher estava aprontando, estava tendo um caso com outro enquanto eu estava fora. Eles inclusive tinham provas. Aquilo foi como uma punhalada em meu peito. Eu não conseguia acreditar. Eles diziam que eu tinha que me separar, que eu não podia aceitar uma situação desta. Um deles inclusive me deu um ultimato e acabamos brigando feio.

Eu dizia que não queria me separar de minha mulher por causa de meus três filhos que ainda eram pequenos. Mas não era isto. Eu não queria me separar porque eu a amava muito. Mas eu estava muito magoado e ferido.

Pedi pra voltar a trabalhar em minha cidade e fomos contornando a situação. Ela me pediu perdão e eu a perdoei, mas não havia mais a mesma relação de confiança. Meu casamento ficou abalado e ferido de morte.

Tempos depois eu fui trabalhar no mesmo setor que aquela funcionária trabalhava. E começamos uma amizade. Ela era sempre muito simpática, sorria para mim aquele sorriso encantador e eu ficava como bobo. Ela era casada. Estava passando por uma crise em seu casamento. Muitas vezes ela se abria comigo e acabamos nos tornando confidentes. E eu como homem passional e romântico que sempre fui, comecei a nutrir uma paixão secreta por ela. E ela como mulher sagaz que era, logo notou o meu interesse, mas se fazia de desentendida e inocente. E ficava, sutilmente, jogando seu charme e me dando corda. E eu fui me apaixonando e esquecendo a minha esposa.

Passado pouco tempo ela se separou do marido e ficou triste e abatida. Eu fazia de tudo para levantar seu astral. A separação se deu perto do natal e no dia 24 de dezembro eu lhe mandei flores, sem cartão. Só queria que todos soubessem que ela era uma mulher querida e que ela soubesse o quanto eu me importava com ela. Ela se mostrou feliz e isto me deixou mais feliz ainda.

Este jogo de sedução foi se prolongando. Nas suas férias ela viajou com amigas e eu fiquei me mordendo de tanto ciúme. Ficava imaginando o que ela estaria fazendo, com quem estaria. Foi uma tortura.

Mas ela voltou e tudo ficou bem. Cada vez mais ela se insinuava para mim. E eu ficando cada vez mais alucinado de paixão. Algumas vezes saímos juntos e foi maravilhoso. Ela era uma mulher fantástica e me deixava mais e mais apaixonado.

Eu me declarava pra ela todos os dias. Dizia as mais lindas palavras que uma mulher pode ouvir de um homem, eu me desmanchava em carinho e atenção com ela. O meu último pensamento antes de dormir era pra ela, o meu primeiro pensamento ao acordar era ela. Eu ficava imaginando a cada minuto o que ela estaria fazendo. Eu ficava feito bobo rindo sozinho ao lembrar nossos momentos.

Um dia eu disse que ia me separar pra ficarmos juntos e ela friamente me disse:

-Não se separe por minha causa. Eu não quero ficar com você.

Eu não levei a sério e me iludi que ela só estava falando isto por causa de meus filhos.

E eu me separei. E continuamos saindo. Eu disse a ela que queria um compromisso sério com ela e o quanto eu a amava. E ela simplesmente disse que não queria nenhum compromisso comigo, que não queria assumir nenhum compromisso com ninguém.

E ficamos assim. Às vezes nos encontrávamos. O que eu sentia é que ela só me queria quando precisava de um ombro para chorar, quando precisava de uma companhia ou quando precisava de um macho em sua cama.

Comecei a sentir que ela só me usava. Mas eu estava tão apaixonado que eu aceitava tudo. Eu estava cego de amor por aquela mulher.

E o tempo foi passando e ela só me usando e eu feito um paspalho aceitando tudo o que ela queria fazer comigo.

Um tempo depois ela foi trabalhar em outra cidade. Eu morria de saudade, ligava todos os dias e ela só me desprezando.

Um dia eu fui até a cidade que ela estava trabalhando e ela me recebeu com desprezo. Perguntou o que eu estava fazendo ali e pediu pra eu deixá-la em paz. Aquilo me arrasou. Eu me sentia triste e desolado, em casa eu chorei como um menino.

Mas feito um cachorrinho abandonado eu voltei a procurá-la. E ela só me rejeitava.

Até que eu fiquei sabendo que ela estava com outro. Mais uma vez eu estava sendo traído, mas esta traição doeu tanto que eu achei que não fosse resistir. Fiquei deprimido por muito tempo, fiquei sofrendo, todos os dias sozinho em minha cama eu chorava por ela.

Ela já não escondia mais que estava com outro.

Um dia ela me encontrou e veio falar comigo. Eu ferido como estava disse a ela:

-Não fale comigo. Não me cumprimente. Não me olhe. A partir de hoje eu não vou mais nem olhar na sua cara. E saiba que se algum dia eu me encontrar com você e olhar, cumprimentar ou lhe dirigir a palavra, é porque eu lhe esqueci.

E eu nunca mais olhei, cumprimentei ou falei com ela…

Tudo que ela demonstrava sentir por mim era só uma brincadeira.

Nádia Gonçalves
Enviado por Nádia Gonçalves em 08/12/2021
Código do texto: T7402983
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