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Sentada na confortável poltrona do seu gabinete de empresa, Diana refletiu sobre tudo o que lhe tinha acontecido nos dois últimos dias. 

 

 

Lembrou a tarde em que tinha sido apresentada ao português da empresa contratada pela sua firma e que tinha vindo a Nova Iorque para resolver um problema complicado. Seu chefe convencera-a a ficar num hotel, de forma a aproveitar totalmente o tempo de permanência do gestor luso em terras do Tio Sam.

 

Quando conheceu aquele homem alto, elegante, de cabelo grisalho e olhos verdes penetrantes, o coração dera-lhe um pulo. Era mais velho que ela, teria quase idade para ser seu pai. Chamava-se António, um nome vulgar em muitos países como ele próprio frisara. Emanava um ar misterioso, aquele magnetismo desde logo a tocara. Taciturno, esboçou um sorriso tímido que a encantou por saber que sorrir assim não era vulgar nele. Conversou com ela em inglês fluente até altas horas da noite, um copo de whisky fazendo-lhes companhia.

 

Depois foram para os respetivos quartos e à saída do elevador ela não pôde evitar dar-lhe um beijo de boa noite na face, rodando depois meia volta, ruborizada.

 

Ele causara-lhe uma impressão invulgar. Estivera a portar-se como uma virgem, até parecia que agora, aos trinta e cinco anos, nunca tivera um homem. Na verdade, já tivera alguns, mas não lhe tinham deixado gratas recordações, nem sequer saudades.

 

No dia seguinte, bem cedo, ela sentara-se num canto afastado da sala e António, assim que a viu, pedira licença e sentara-se ao seu lado. Comeram de forma frugal, bebendo no final um café de forma a melhor enfrentar um dia de trabalho intenso. Ela estava a assessorar o seu chefe no encontro com António. Este, como CEO dessa empresa, chamara a si a responsabilidade de resolução do problema que haviam criado e impedia a concretização do projeto.

 

O dia decorreu com completa dedicação de todos os envolvidos. Almoçaram já tarde, comida chinesa. Diana observou pasmada a desenvoltura dele a manipular os pauzinhos com que segurava os pedaços de comida. António sorriu uma vez mais e os olhos dela brilharam. O coração acelerou rumo à taquicardia. Quase lhe faltou o ar e prometeu a si mesma que não o fixaria mais nos olhos até ao final do dia.

 

Terminaram já tarde mas António ainda teve tempo para confirmar o voo de regresso a Lisboa, agendado para a manhã do dia seguinte.

 

Os três foram jantar a um restaurante chique de Manhattan, tendo conseguido lugares graças aos conhecimentos do chefe de Diana. No final da refeição, paga após muita insistência pela empresa onde Diana trabalhava e porque o chefe dela, discretamente se retirara alegando cansaço, António perguntou-lhe se queria regressar já para o hotel ou então poderia acompanhá-lo nas derradeiras horas de estadia na cidade que nunca dorme.

 

Embora não fosse muito dada a saídas, Diana conhecia um ou dois clubes, tendo conduzido António até um situado na Lower Manhattan, mais de acordo com os seus gostos musicais.

 

Dançaram algumas músicas da moda, incluindo uma quizomba, que a deixou de pernas bambas. Ele não parava de a surpreender. Interrogava-se aonde a noite os iria conduzir…

 

Já tarde, apanharam um táxi até ao hotel e subiram aos quartos, algo cansados e sonolentos.

 

António acompanhou-a cortesmente até à porta do quarto e fez menção de lhe dar um beijo de boa-noite na face. Olhou-a e ela,  muito enrubescida, baixou a cabeça, demorando a retribuir o olhar, como se fosse um animal indefeso acossado por um predador. Então António pegou-lhe nas faces e beijou-lhe cortesmente a testa, fez-lhe uma breve carícia no rosto, desviando-se depois para o seu quarto.

 

Diana não conseguiu dormir o resto da noite, mesmo depois de um demorado duche.

 

Agora estava ali, sentada, sem saber porquê…

 

Ou talvez soubesse... Esperava-o…

 

António surgiu vindo do elevador, parou na receção e fez o check-out.

 

Depois, sem parar de a fitar, dirigiu-se para ela e parou em frente ao sofá onde Diana se encontrava.

 

Ela levantou-se, não sabia o que dizer e estendendo-lhe a mão, balbuciou um sumido “Boa Viagem”…

 

Ele apertou-lhe a mão e depois pegando na pequena mala de viagem, dirigiu-se à porta giratória de saída.

 

Diana ficou a vê-lo afastar-se e então sentiu os olhos encherem-se de água, Não mais resistindo à sua própria vontade, correu para ele, fê-lo virar-se e pegando-lhe no rosto, beijou-o com toda a intensidade do seu querer, molhando-lhe as faces.

 

António abraçou-a com ternura e ficaram assim, juntos, um só vulto junto à entrada do hotel.

 

- Ficas aqui - disse ela, pousando a mão no lado esquerdo do peito.

- Eu volto, querida. De certeza voltarei, Diana.

- Quero muito, meu querido. Regressa para mim…

 

Ele soltou-se a custo daquele abraço que lhe cativava a parte mais afetiva de si e depois afastou-se rumo ao táxi que o esperava.

 

Diana continuou a olhar a sua elegante figura até que entrou no táxi e o mesmo se afastou. O seu coração ficara apertado mas ao mesmo tempo esperançoso pois António prometera-lhe regressar. Por fim, sorrindo, dirigiu-se para a estação de metro mais próxima e rumou à empresa.

 

 

 

 

RELANÇAMENTO

 

 

 

 

 

 

 

 

IL DIVO - REGRESA A MI   -   https://www.youtube.com/watch?v=DJNzmNB48no

 

Carlos Marin fazia parte deste conjunto musical, tendo falecido no dia 19/12/2021 com COVID-19, após uma semana de coma induzido. Estava vacinado. Esta canção figura aqui como uma homenagem que o autor do conto lhe presta.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ferreira Estêvão
Enviado por Ferreira Estêvão em 23/12/2021
Reeditado em 09/07/2023
Código do texto: T7413501
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