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AMOR EM TEMPO DE GUERRA

 

 

Já estavam há muitas horas aglomerados na estação de Lviv, ela aguardando que o comboio partisse rumo à liberdade possível, ele ficando pois devido ao esforço de guerra todos os ucranianos do sexo masculino entre os dezasseis e os sessenta e cinco anos tinham que  defender a sua terra na invasão russa.

 

Numa modesta carruagem de segunda classe, Yana chorava pois era a primeira vez que se separava do marido e talvez essa fosse a derradeira ocasião. Levava o filhinho de ambos de um ano,  Yaroslav, que agora dormia placidamente, aconchegado num xaile sobre o banco em frente.

 

Apesar de tudo tinham tido sorte pois a sogra, Lyuba, aguardava-os em Kosice, na Eslováquia, que dali distava pouco mais de duzentos kms. A outra conseguira sair ainda mais cedo daquele inferno anunciado, mesmo assim menor que os seus compatriotas que moravam em Kiev ou nas cidades arrasadas de Kherson ou mesmo Kharkiv, sujeitos aos bombardeamentos e ao ruído incessante das sirenes de aviso de ataque.

 

Pavlo voltou a entrar no comboio, tropeçando as bagagens que se amontoavam no chão da carruagem. Num ímpeto arrebatador, pegou no filho, que acordou sobressaltado, e começou a chorar. Abraçou Yana, também desesperada por saber que aquela poderia ser a última vez que se olhavam frente a frente.

Os três ignoraram o ruído à volta e ficaram assim alguns minutos até que um apito estridente lhes lembrou que o comboio iria partir.

 

A custo, Pavlo depositou o filho de novo na cama improvisada produzida com um cobertor de lã, aconchegando-o sobre o banco e dando-lhe muitos beijos, depois abraçou Yana e também a beijou, um beijo de desespero pela incógnita do futuro.

 

Acabou por sair da carruagem e no cais, junto à janela, soltou lágrimas de dor e já de saudade pelos seus entes queridos que se iriam afastar de si, talvez definitivamente.

 

O comboio pôs-se em marcha e progressivamente foi-se afastando até sumir no final da linha.

 

Pavlo esteve algumas horas na cidade, depois foi levado, tal como outros ucranianos ainda jovens, para os arredores de Lviv, onde se construíam trincheiras e instalava equipamento de guerra moderno, cedido por países amigos e que iriam ajudar nesse esforço de defesa contra o invasor…

 

Pendurada no peito levava num fio de prata uma pequena medalha, que agarrou fortemente na mão esquerda, contendo fotos da esposa e do filho. Seria a sua Fé…

 

 

 

 

Ferreira Estêvão
Enviado por Ferreira Estêvão em 18/03/2022
Reeditado em 18/03/2022
Código do texto: T7475518
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